No Espanha-Croácia, Lamine faltou às aulas para assistir a uma lição de Belas Artes de Fabián Ruiz
James Gill - Danehouse
Lamine Yamal, com 16 anos e 338 dias, tornou-se no jogador mais jovem de sempre a atuar num Euro. Parece mentira, não é? Porém, mais enganador é o 3-0 com que a Espanha derrotou a Croácia. Muitas oportunidades de parte a parte acabaram por penalizar quem teve as falhas defensivas mais flagrantes. Morata, Fabián Ruiz e Carvajal aproveitaram
O xadrez vermelho e branco da Croácia é um desafio constante para a Espanha. Este foi o quarto Euro consecutivo em que as duas seleções se defrontaram. Se, desta vez, o encontro serviu para abrir o grupo B, em 2021, o duelo ocorreu nos oitavos de final. Faça-se a leitura que se quiser do calibre do evento.
Depois, outro fator que acicatava o cenário: a mestiçagem futebolística. Dani Olmo, que começou o jogo no banco, fez uma parte relevante do percurso formativo no Dinamo Zagreb. O selecionador da Croácia, Zlatko Dalic, chegou a falar com a então presidente do país para aprovar a nacionalidade do jogador catalão, o que nunca chegou a acontecer. Do outro lado, Luka Modric fez-se ídolo no Real Madrid e as 12 épocas na capital espanhola bem mereciam um título de cidadão honorário.
Marvin Ibo Guengoer - GES Sportf
Berlim notou o virtuosismo do estilo de ambas as partes. Com bola, o jogo foi equilibrado. Sem ela, a balança pendeu para La Roja. Gvardiol, o mais cotado dos defesas da Hrvatska, montou ponto de comando no lado esquerdo e de lá não tinha vista para os perigos que apareciam ao centro onde Pongracic e Sutalo tiveram o corpo, mas não a alma. Com janelas abertas em dois lados, já se sabe, aparece a corrente de ar.
O vendaval espanhol apareceu para comemorar os 16 anos e 338 dias de Lamine Yamal. Coloquemos a mão na consciência, porque se o jogador não passar de ano na escola, a culpa é do mundo inteiro que o aprecia. Mas comecemos por apontar o dedo à equipa técnica da seleção espanhola que tem o descaramento de atirar o rapaz aos leões. Então e se o menino se aleija?
Está bem, a Espanha defrontou a Croácia no fenecer da semana, quando não há TPC’s para entregar, caso contrário, a situação podia ser bastante séria. Para gáudio dos adeptos, um grupo social irónico zelador dos deveres dos profissionais de futebol, encurtaram-se alguns procedimentos no controlo de qualidade e freaks como Yamal começaram a ser certificados cada vez mais cedo. Jamal Musiala, da Alemanha, por exemplo, já está a realizar, aos 21 anos, a terceira grande competição de seleções no Euro2024.
“Trouxe os trabalhos de casa, tenho aulas online e tem corrido bem. Espero que o professor não me chumbe”, disse Lamine Yamal ao Diario AS. Compromissos de quem, ao ser titular pela a Espanha, se tornou no jogador mais novo de sempre a jogar num Euro, superando o polaco Kazper Kozlowski.
Dani Carvajal, o companheiro de flanco direito, contribui com 32 anos para a média de idades. Sobre o que é que esta gente fala durante os estágios, só eles saberão. No campo, iam ter que arranjar forma de se entenderem. Diga-se que o fizeram com sucesso. Nada falhou na assistência do extremo formado no Barcelona para o jogador do Real Madrid no tempo de compensação da primeira parte. A ida para o intervalo foi animada com mais um golo, o terceiro da Espanha.
Alex Livesey
Se o ponto forte da Croácia eram os médios, então Luis de la Fuente investiu forte na pressão aos defesas para que a bola não chegasse aos artistas. Para isso, adiantou Rodri, na teoria o médio mais defensivo, para pressionar e deixou Fabián Ruiz nas coberturas ao espaço à frente dos centrais. Só quando Kovacic, individualmente, carregava a posse croata é que o ataque da equipa de Zlatko Dalic fluía. No momento ofensivo, a Espanha jogava em 4X3X3 com Fabián Ruiz e Pedri a desempenharem o papel de médios interiores, posição à qual Luis de la Fuente exige aos jogadores que a ocupam risco no remate.
Em ambos os momentos táticos mais relevantes protagonizados pela seleção espanhola, Fabián Ruiz foi preponderante. No primeiro golo, apontado por Morata, o médio do Paris Saint-Germain abreviou caminho com um penetrante passe vertical no sempre vantajoso momento pós-recuperação de bola. Três minutos depois, deu mais uma lição do mestrado de Belas Artes ao menino Lamine Yamal, mas também a Nico Williams que esteve no outro flanco.
Consciente da inevitabilidade da derrota, Zlatko Dalic evacuou os reis do castelo. Modric e Kovacic foram substituídos aos 65 minutos tendo em vista os compromissos que se avizinham com Itália e Albânia. Nem por isso deixava de pairar a ideia de que um jogo de 3-3 estava, na realidade, 3-0 para os espanhóis. As oportunidades ficaram sempre a rondar a linha da baliza de Unai Simón. Na sequência de um penálti resultante de um erro do guarda-redes a jogar com os pés, Petkovic finalmente concretizou (só na recarga). Devido ao mais insólito dos motivos – os croatas invadiram a área antes da bola sair do pé do jogador do Dinamo Zagreb – o golo foi anulado. Há dias assim.