O físico imponente é visível até através de uma videochamada, mas, se qualquer adepto já está habituado a isso em Beto, o que desde logo surpreende no avançado é o sorriso fácil, a naturalidade do discurso, uma forma de falar sem as arramas que tanto nos habituámos que os protagonistas do mundo da bola tivessem quando se lhes permite falar.
Sentado numa cadeira em Udine, em Itália, Beto, avançado da Udinese, falou com a Tribuna Expresso de um percurso invulgar. E explicou que, para a sua ascensão meteórica, houve 90 minutos que tiveram um papel fundamental. Só que não se tratou de um jogo de futebol.
Estávamos em 2014. Era verão, a época dos amores enterrados na areia, das tardes infinitas e de mais uma eternidade de frases feitas. Só que a vida de Norberto Bercique Gomes Betuncal não parece ser compatível com coisas padronizadas ou previsíveis. Beto tinha 16 anos. Depois de ter começado a jogar futebol no União de Tires, o jovem esteve, entre os 13 e os 14 anos, na formação do Benfica, uma temporada que chegou para ver que "não estava ao nível" dos futebolistas da sua idade que estavam nas águias, os quais "jogavam demasiado bem". E, após um ano de regresso ao Tires e uma época no Oeiras, Beto estava "sem rumo".
"Depois de sair do Benfica, tive um momento de quebra", diz-nos o português, que explica que "a escola não corria bem", o que levava a mãe a ir tirando-o e voltando a colocar no futebol. Do Benfica, Beto voltou ao Tires mas, sem dizer nada a ninguém do clube, foi para o Oeiras. E, naquele verão de 2014, o adolescente de 16 anos "estava para desistir do futebol". E não desistiu porquê?