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Crónica

Das certezas a construir às dúvidas na pressão: o que esperar do Benfica-Sporting

Das certezas a construir às dúvidas na pressão: o que esperar do Benfica-Sporting

Tomás da Cunha

Analista e comentador de futebol

O comentador e analista Tomás da Cunha antevê o dérbi, projetando a importância da saída de bola dos leões, com Inácio ou Diomande como protagonistas. Nas águias, Schmidt terá um teste importante, sendo necessário resgatar a melhor dimensão coletiva dos campeões nacionais

Nos dois confrontos entre Roger Schmidt e Rúben Amorim, ninguém saiu a ganhar — embora tenha havido períodos de superioridade de parte a parte. Quem mudou mais foi o Benfica, que está a experienciar algo novo com o alemão: a sensação de caminhar sem rumo. De resto, ninguém será capaz de afirmar convictamente qual é o sistema em que os encarnados entrarão e com que 11. O treinador do Sporting reconheceu a dificuldade de preparar a partida, neste cenário de desconhecimento, mas o conforto tático e psicológico favorece os leões.

Se há aspecto em que a equipa cresceu desde a segunda metade da época anterior, é na construção a partir dos centrais. A entrada de Diomande – serenidade, leitura, argumentos técnicos – e a afirmação definitiva de Gonçalo Inácio à esquerda permite que o Sporting tenha um catálogo muito variado. Ambos sabem atrair a pressão e meter passes por dentro, nas alas ou em profundidade. Depois, juntou-se Hjulmand. Dá ritmo à circulação de bola e arrisca muitas vezes a ligação vertical, para facilitar o assalto ao bloco adversário. Querendo, e havendo disponibilidade física do jogador, Rúben Amorim ainda conta com St. Juste para as arrancadas na direita. O facto de Coates ter feito 90 minutos na Liga Europa dá força à possibilidade de não ser titular na Luz.

Seja qual for o trio escolhido, a antevisão não muda no essencial. O Sporting vai tentar desmontar a pressão do Benfica, que tem sido frágil neste arranque de época. Esse é o desafio maior de Schmidt, sabendo que só poderá competir com o rival se melhorar a forma como condiciona a saída e força erros. Com a Real Sociedad, já no sistema de três centrais, falhou em toda a linha, mas as características do coletivo verde e branco até podem levar o alemão a procurar um encaixe tático. É o prato do dia para Rúben Amorim, habituado a essa adaptação por parte dos adversários. Assim se percebe que há fortes probabilidades de que Diomande (ou St. Juste) e Inácio virem protagonistas na Luz, por bons ou maus motivos.

Há quem justifique as diferenças na pressão do Benfica pela saída de Gonçalo Ramos. É importante, mas reduz um trabalho coletivo à presença (ou à ausência, neste caso) de um jogador. Florentino e Enzo Fernández, enquanto formaram dupla, preenchiam o meio-campo e destacavam-se na reação à perda de bola. Kökçü, por mais que mostre atributos no passe, não garante a mesma eficácia nesse campo. Aursnes, na segunda linha, marcava a diferença pela agressividade sem bola, mas anda enfiado nas laterais. E o mesmo acontece com João Neves, que oferece energia e liderança quando a exigência sobe. Foi assim nos encontros frente ao FC Porto.

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