God save o futebol da seleção de Inglaterra, porque Southgate não o está a salvar (e a histórica Eslovénia agradece)
Franco Arland/Getty
Em novo jogo fraco por parte de uma das equipas mais recheadas de talento do Europeu, Inglaterra não foi além do nulo contra a Eslovénia. Southgate insistiu em fórmulas que deixam os seus craques desconfortáveis e o futebol foi pobre e sem ideias. Ainda assim, os ingleses passam em primeiro e vão para o lado mais fácil do quadro, enquanto os eslovenos passam a fase de grupos de um grande torneio pela primeira vez
É difícil escolher o que é pior desta Inglaterra. Se a saída de bola, com Guéhi a fazer passes disparatados, ou o meio-campo em que, com tanta gente criativa no plantel, parece não haver um médio criativo e organizador; se a prisão de Foden na esquerda, se a tristeza futebolística de Bellingham, se o esquecimento de Cole Palmer ou Gordon; se a estrutura rígida, dura, que parece um pão feito há muitos dias, ou um certo conformismo generalizado com esta mediocridade.
Depois da feia vitória contra a Sérvia e o feio empate contra a Dinamarca, um feio empate contra a Eslovénia. Tem mérito juntar Foden e Saka, Kane e Bellingham, e jogar tão pouco futebol. Parabéns, Southgate.
E se calhar os parabéns são mesmo merecidos. Quis a sorte que este Europeu tivesse toques de 2016: um lado do quadro com quase todos os favoritos, outro bem mais aberto. Assim, no caminho até à final, por uma parte concorrem Portugal, Espanha, Alemanha e França. Pelo outro parece tudo mais facilitado, e é aí que Inglaterra foi cair. Parabéns, Southgate?
Neste futebol de sorriso ausente dos ingleses, talvez o pior seja ver Phil Foden, um dos melhores jogadores da Premier League. Condenado à prisão à esquerda, Phil Foden parece, nesta Inglaterra, ter de jogar cumprindo regras de trânsito: sem liberdade, cheio de sentidos proibidos, sentidos obrigatórios, rotundas que tem de fazer de certa maneira, prioridades a cumprir, cedências de passagem a obedecer.
Toda a restante Inglaterra parece alinhar neste código da estrada do futebol pobre. É difícil escolher o que é pior desta Inglaterra. Parabéns, Southgate. Seria difícil escolher um quadro até à final mais simpático, evitando Portugal, Espanha, Alemanha e França. Parabéns, Southgate?
Depois de um começo sonolento, lento, em velocidade tartaruga, com a Eslovénia contente com o resultado e Inglaterra incapaz de o alterar, surgiu um oásis futebolístico aos 20’. Uma grande jogada inglesa! Um milagre, uma luz na escuridão, água no deserto.
Fazendo jus à qualidade individual ao dispor, Trippier, Rice, Foden e Saka associaram-se como o fazem os futebolistas de elite. Passe do lateral do Newcastle para o médio do Arsenal, corrida do canhoto do City detetada, bola em Foden, assistência de primeira para Saka, golo. O melhor desenho de Inglaterra no Europeu, o fim da seca, a arte veste de branco e tem três leões no escudo.
Mas foi só um sonho. Não um sonho literal, o lance aconteceu mesmo. Um sonho competitivo, porque não contou, perdeu-se na memória. Foden estava fora-de-jogo, o golo não contou, de volta à seca, ao deserto, ao pesadelo.
Inglaterra não rematou nos primeiros 30'. Não é que não tenha rematado à baliza, não rematou de todo. Nos primeiros 92', Oblak, o sempre sereno, académico e sóbrio Oblak, só fez duas defesas, respondendo a remates de longe de Foden e Kane. Acabaria apenas com três intervenções feitas, após travar uma tentativa de Palmer já em tempo de descontos.
A Eslovénia confia na agressividade da dupla de avançados formada por Šporar e Šeško, mas deixou evidente desde o apito inicial que assinava por debaixo do 0-0. Não criou qualquer oportunidade em toda a noite. E, assim, o grande destaque do primeiro tempo foi um adepto inglês a dormir — literalmente — nas bancadas de Colónia.
Um adepto inglês embalado pela sonolência da partida
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A grande solução que, antes da partida, Southgate arranjou para ganhar alguma arte e engenho no seu meio-campo foi tirar Alexander-Arnold e colocar Conor Gallagher. O técnico disse que o médio “pressiona bem”, podendo “correr rumo à área” e “ganhar segundas bolas”.
Pois bem, Gallagher lá andou em campo, algures na meia-direita, algures entre o meio-campo e o ataque, algures perdido entre o perdido jogo inglês. E a grande solução durou uma parte, já que Gallagher foi substituído, ao intervalo, pelo jovem Kobbie Mainoo.
Depois de entrar no Europeu com o golo à Sérvia, Jude Bellingham parece uma sobre de Jude Bellingham. Impreciso, desaparecido, dando constantes sinais de frustração e incómodo. Aos 54', depois de não ter conseguido receber um grande passe de Kane, deu sinais da sua frustração, refilando com os céus, triste com este triste fado do jogar inglês.
A Eslovénia foi defendendo. Inglaterra foi atacando. Sem perigo, sem rasgo. A Eslovénia foi ficando satisfeita com o empate. Inglaterra não pareceu muito incomodada. Gordon entrou aos 90', mostrando-nos que não se perdeu algures na Alemanha.
Nunca se marcaram menos golos na história dos grupos de Europeus que neste grupo C. Apenas sete. No outro encontro, Dinamarca e Sérvia também se ficaram pelo nulo, com os dinamarqueses a terminarem em segundo e marcarem encontro na próxima fase contra a Alemanha.
Para a Eslovénia, a noite de Colónia é histórica. Para Inglaterra, entre o sono e a pobreza, a sorte do quadro sorriu a Southgate como Southgate não sorri ao bom futebol. Irá ele aproveitar?