Evanilson não se demite do golo e o FC Porto perdulário aproxima-se da passagem na Liga dos Campeões
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Em novo jogo em que os dragões pecaram na finalização, só de penálti o brasileiro abriu caminho ao triunfo contra o Antuérpia, que foi selado por Pepe nos descontos (2-0). Os belgas jogaram com 10 desde os 50', mas o público brindou a equipa, que quase permitiu o 1-1 aos 89', com alguns assobios
Dois ou três minutos sintetizaram a noite no Porto. Aos 88', após cruzamento de Jorge Sánchez, Pepê, dentro da área e com tudo por marcar, atirou para as nuvens. Sérgio Conceição abriu os braços ao céu, incrédulo com novo desperdício, o 15.º remate do jogo para os dragões, o 34.º nos dois últimos encontros, quantidade que, naquele momento, só se traduzia num golo em tamanha chuva de finalizações.
Logo a seguir, diretamente do pontapé de baliza, a desatenção e descoordenação de Pepe e David Carmo permitiu que Muja se isolasse. Diante de Diogo Costa, o atacante atirou ao lado. Estávamos nos 89', o Antuérpia jogavam há quase 40' com menos um, mas o sofrimento não saía dos locais. O público assobiava, a equipa parecia ainda de cabeça baixa, fiel à mensagem do seu treinador na véspera.
Mas faltava o terceiro ato desta sucessão de acontecimentos que resumiu o encontro. No primeiro minuto de descontos, Francisco Conceição cruzou e Pepe elevou-se para cabecear para o 2-0. Depois do desperdício e do susto, dos assobios e da incerteza, o sorriso, o festejo. Terceiro triunfo em quatro jornadas e os oitavos-de-final bem mais perto.
O FC Porto tem nove pontos no grupo H, os mesmos do Barcelona e mais três que o Shakhtar, que cometeu a proeza de bater os espanhóis. Segue-se a visita à Catalunha e a possibilidade de não só seguir em frente, mas fazê-lo ganhando o grupo.
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A partida propunha um embate de gerações. George Ilenikhena, o avançado dos belgas de 17 anos, contra Pepe, a lenda do FC Porto, quatro décadas de vida. Quando o adolescente nasceu, já o veterano disputara 96 encontros na I Liga e vencido uma Taça Intercontinental, uma Liga, uma Taça de Portugal e uma Supertaça vestido de azul e branco.
Neste confronto, foram os visitantes os primeiros a causar um susto aos locais. Após perda de bola de Varela, Ilenikhena, num ataque rápido, serviu Michel Ange Balikwisha, que, em boa posição, rematou desviado.
Mas seria o jogador de campo mais velho da história da Liga dos Campeões a levar a melhor. Aos 40 anos e 254 dias, tornou-se no goleador mais veterano da história da competição, superando Totti. Antes disso, ainda exerceria de líder para abrir caminho para o 1-0 de Evanilson, o seguro de golo, do qual se parece ter demitido Taremi.
Os campeões da Bélgica entraram no Dragão como a pior defesa desta edição da Liga dos Campeões, com 12 golos encaixados nas três rondas iniciais. Mas nem essa fragilidade inspirou Taremi a regressar aos festejos.
Já depois de Evanilson, aos 15', ter falhado o 1-0, foi o iraniano a desperdiçar o primeiro golo da noite aos 30'. Havia posição adiantada de Taremi, mas a face do avançado é, por estes dias, triste, o seu gesto tímido, longe das dimensões múltiplas a que habitou o público, como se fosse uma versão reduzida de si próprio, perdulário na finalização e desinspirado na criação. Voltaria a ser substituído relativamente cedo (aos 69') e segue sem golos apontados em casa em 2023/24.
Talvez por isso, até os penáltis, território habitual de Taremi, se tornaram momento de dúvida. O iraniano desperdiçou contra o Estoril e, aos 32', a interrogação chegou ao Dragão.
Após remate de Pepê, o mais recente homem a ser chamado ao mundo de sonhos que é a seleção do Brasil, que foi travado por Lammens, Kerk atropelou Eustáquio, fazendo penálti. Deu-se uma pequena cimeira na área entre Varela e Taremi, até Pepe chegar, vindo lá de trás, para dar a bola a Evanilson. O brasileiro não falhou.
Depois das dúvidas, Pepe deu a bola a Evanilson para o penálti
Diogo Cardoso/Getty
Depois das dúvidas, Pepe deu a bola a Evanilson para o penálti
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São já sete golos em apenas 478 minutos na temporada para o atacante que faz lembrar Derlei, um a cada 68 minutos. Evanilson não está imune à falta de pontaria, mas nenhum outro futebolista de Sérgio Conceição tem mais do que três festejos nesta campanha. Só ele parece não se demitir do golo.
Em vantagem, a parte final do primeiro tempo trouxe, talvez, a melhor versão do FC Porto no desafio. Com André Franco e Pepê partindo das alas para o meio, Taremi voltou a ter chance de rematar, mas atirou às malhas laterais.
A segunda parte começou praticamente com o vermelho para o Antuérpia. Ekkelemkamp, após consulta do VAR, foi expulso por falta dura sobre Zaidu.
Pouco depois do vermelho para o belga, o FC Porto também arriscou ficar reduzido a 10. Em mais uma edição da instabilidade associada a David Carmo, um defesa que, a qualquer momento dos jogos, parece pronto para fazer explodir uma bomba a meio do campo e gerar ondas de choque negativas para a sua equipa, o central deixou escapar Ilenikhena, derrubando o jovem atacante. Viu o nono amarelo em 10 compromissos na temporada, além do vermelho contra o Portimonense.
Em vantagem numérica, o FC Porto pareceu algo adormecido. O resto da noite foi passada num estádio de desconforto, entre assobios mais ou menos ruidosos e oportunidades falhadas para o 2-0. Evanilson atirou para a defesa de Lammens, Franco e Pepê nem no alvo acertaram.
Até que chegaram os tais minutos do desfecho. Dos assobios, do alívio, do triunfo. E da história que a longevidade de Pepe voltou a escrever.