Crónica de Jogo

A estrela da revolução do FC Porto sofredor foi o renascimento de Taremi

A estrela da revolução do FC Porto sofredor foi o renascimento de Taremi
Gualter Fatia/Getty

Conceição fez oito alterações no onze, mudou de estrutura tática e fez estrear quatro jogadores a titular. No entanto, o triunfo por 1-0 foi garantindo por Taremi, que começou no banco mas entrou para o lugar do lesionado Evanilson. O FC Porto voltou a ter muitas dificuldades, acabou encostado à sua área, mas consegue pressionar os rivais

A estrela da revolução do FC Porto sofredor foi o renascimento de Taremi

Pedro Barata

Jornalista

A Amadora é terra de mudanças para o FC Porto. Lá acabou a era de Vítor Baía na baliza do clube, condenado por uma derrota por 2-1 que levou Co Adriaanse a apostar em Helton. Após esse desaire, o neerlandês fez outra mexida, apostando pelos três centrais que o levaram à dobradinha, marcando o seu tempo em Portugal.

Talvez inspirado por este legado, mais provavelmente devido às dificuldades da equipa no mês de agosto, Sérgio Conceição foi à Reboleira cheio de novidades. Face ao onze da passada jornada, só Diogo Costa, Marcano e Galeno se mantiveram a titulares, uma revolução que teve mais ramificações: novo sistema, com três centrais (Marcano mais Pepe e Carmo, que voltou ao onze 11 meses depois) e estreia de quatro futebolistas no onze titular (Gonçalo Borges, Alan Varela, Iván Jaime e Fran Navarro).

No entanto, entre tanta alteração, a estrela da revolução foi mesmo Taremi. O iraniano, afastado dos golos neste arranque de temporada, novela constante pelo vai-não vai para Milão e pela questão dos penáltis, foi suplente, uma raridade nos seus tempos de azul e branco. Mas saltou do banco para resolver com classe, num dos poucos momentos de clarividência da equipa no 1-0 que deu o triunfo ao FC Porto.

Tal como nas quatro jornadas anteriores, foi um dragão quase de serviços mínimos, de sofrimento, longe de dominar e de se impor. Uma equipa à procura da identidade perdida, à descoberta de novas rotinas, sem as certezas de outrora.

Em cima dos 90', Alan Varela, em cima da linha de golo, evitou o 1-1. Foi a expressão do encontro para os dragões, uma intranquilidade constante que acabou a defender a margem mínima em cima de Diogo Costa, ideia literalmente protagonizada pelo argentino.

Gualter Fatia/Getty

O FC Porto surpreendeu ao entrar com três centrais, mas os três centrais (de raiz) duraram três minutos. Logo na madrugada do embate, Marcano, por lesão, teve de abandonar. Com os visitantes com 10, enquanto não se operava a substituição do espanhol, uma perda de bola dos dragões levou a um remate, à entrada da área, de Ronaldo Tavares, que ressaltou para Leo Jabá. O brasileiro que chegou a jogar com David Neres ou Paquetá na seleção de sub-20 atirou ao lado, mas João Pinheiro assinalou penálti por falta de Pepe, que após consulta do VAR viria a reverter.

Sem Marcano, entrou Wendell, um lateral, para completar o trio defensivo. Mesmo sem três centrais de raiz, Sérgio Conceição manteve a estrutura: Galeno era o ala pela esquerda e Gonçalo Borges fazia o mesmo pela direita, Alan Varela atuava como âncora no meio-campo, com Iván Jaime e André Franco mais à frente.

Se o onze de Conceição surpreendeu, as opções tiveram curto prazo de validade, por via das lesões. Evanilson foi o segundo infortunado, abandonando o campo antes do quarto-de-hora. O brasileiro não era titular desde junho, na final da Taça, quando saiu… lesionado. Um pára-arranca que continua para o atacante, substituído por Taremi.

Evanilson voltou a sair lesionado
JOSÉ SENA GOULÃO/Lusa

Entre substituições e o VAR, pouco se jogou no arranque do desafio. Mas, quando se jogou, viu-se o renascimento de Taremi entre tanta revolução. O iraniano recebeu a bola após uma das várias perdas de bola do Estrela no seu meio-campo, fez um túnel a Miguel Lopes e rematou cruzado. 1-0, primeiro golo pelo clube na temporada e uma afirmação de talento depois de semanas complicadas para o iraniano.

O Estrela ameaçava através das jogadas padronizadas que visavam o trio atacante, sobretudo com Ronaldo Tavares a massacrar Carmo, que desde outubro passado só atuara em dois minutos na liga, no jogo direto. Os locais foram para o intervalo com os mesmos remates totais (cinco) e enquadrados (dois) que os visitantes. Em cima do descanso, foi Ronald a voltar a criar perigo, mas Diogo Costa defendeu com classe.

A segunda parte começou com uma inversão dos papéis que, originalmente, se poderiam imaginar. O Estrela tinha a bola, circulava, rondava a área do FC Porto, fazia cruzamentos e assustava; os vice-campeões nacionais sofriam para ter bola, estavam desorientados, não ligavam futebol ofensivo, não transformavam a qualidade de Ivan Jaime, Galeno ou Taremi em jogo atacante.

Aos 69', um lance resumiu a intranquilidade azul e branca. Após pontapé de baliza, Diogo Costa deu em Alan Varela, que estava à entrada na área, de costas para o jogo. O passe do argentino, em vez de dar continuidade à circulação, saiu disparado pela linha final, quase dando impressão de possível auto-golo.

Com o FC Porto longe da baliza adversária, Sérgio Conceição aproveitou o último momento de substituição que lhe restava para uma tripla alteração. Entraram Pepê, Eustáquio e Romário Baró, mas a intranquilidade manteve-se. Na segunda parte, os visitantes não fizeram qualquer disparo enquadrado com a baliza de Brígido.

Incomodando o adversário, faltava ao Estrela mais capacidade para chegar com perigo a Diogo Costa. Aos 73', Ronald Pereira aproveitou a passividade de boa parte da defesa do FC Porto, mas Ronaldo Tavares, sozinho em excelente posição, cabeceou sem direção.

Ronald Pereira foi sempre o jogador do Estrela mais perigoso. Aos 85', fugiu pela esquerda, mas o seu cruzamento não encontrou Alioune Ndour, que voltou a servir Ronaldo, cujo remate acrobático não surtiu efeito.

O FC Porto recuava e recuava, sofria e sofria. Tanta dificuldade resumiu-se em cima dos 90', quando Diogo Costa falhou uma saída e Regis Ndo atirou para a baliza deserta. Era o empate para os recém-promovidos, o castigo para a má exibição dos dragões, a revolução não conseguida de Sérgio Conceição. Mas, em cima da linha de golo, Varela cortou, dando os três pontos aos visitantes.

Com 13 pontos em 15 possíveis, o FC Porto pressiona os rivais e transforma um pouco convincente arranque de I Liga numa soma pontual bastante positiva. Entre revoluções imaginadas e tentadas, regressos animadores e estreias pouco conseguidas, Sérgio Conceição continuará com motivos de preocupação.

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