Faltavam menos de 30 segundos para o fim do Portugal - Brasil quando Francisco Costa usou dos seus 17 anos cheios de talento para colocar a seleção nacional a vencer pela margem mínima, distância fiel ao decurso de todo um embate altamente renhido e em que ninguém conseguiu descolar no marcador. Com escassos instantes para jogar, os europeus empenharam-se na defesa perante a pressa sul-americana em evitar a derrota. Num desenlace confuso, o Brasil perdeu a oportunidade de marcar, as árbitras apitaram e Portugal festejou. Aqui estava a vitória na primeira partida da segunda fase do Mundial, aqui estava o acesso aos inéditos quartos de final mais perto.
No entanto, a meio das celebrações nacionais, a dupla de juízas foi consultar os monitores do vídeo-árbitro. Do visionamento das imagens saiu a decisão de uma infração de Alexis Borges, a qual não foi mostrada pela realização televisiva. Cartão vermelho para o homem do Benfica e livre de sete metros para o Brasil. Estava feito o empate a 28, passando a alegria de lado, qual viajante que cruzou o Atlântico de uma ponta à outra num ápice.
Portugal pensou ter vencido e acabou por empatar, mas, na verdade, sai com sensação de derrota. Pela forma como o jogo terminou, tendo nos lábios o sabor do triunfo que deles escapou abruptamente, pelas diversas imprecisões que limitaram o nível exibicional português, pela convicção de que esta igualdade complica o acesso à próxima fase. Triunfo, igualdade, desaire. Foram três resultados numa só partida, três estados de espírito em escassos segundos.
Na verdade, o epílogo deste Portugal - Brasil foi condizente com o equilíbrio do jogo. O duelo lusófono chegou a parecer uma homenagem ao código binário, em que quase só foram utilizados o zero e o um: o marcador foi variando entre uma diferença de um golo ou uma vantagem nula.
ADAM IHSE/Getty
Após superar a fase inicial com triunfos frente a Coreia do Sul e Hungria e uma derrota contra a Islândia, a seleção está, agora, na main round do Mundial que decorre na Polónia e na Suécia até 29 de janeiro. Habituada a escrever história — conseguiu em 2020 o melhor resultado de sempre no Europeu (6.º lugar), em 2021 o melhor da história num Mundial (10.º) e a primeira presença nuns Jogos Olímpicos —, a equipa de Paulo Jorge Pereira precisa de superar esta ronda para estar entre os oito melhores e voltar a elevar a fasquia. Em Gotemburgo, com o selecionador de volta ao banco após três encontros de castigo, o jogo foi do mais equilibrado possível.
Os brasileiros conseguiram, muitas vezes, impor um ritmo mais baixo, o qual lhes parecia confortável. No primeiro tempo, Miguel Espinha manteve-se como uma garantia de segurança na baliza nacional, com seis defesas, mas o ataque estava muito impreciso.
Só depois dos 15 minutos iniciais é que Portugal esteve, pela primeira vez, a vencer por dois golos de diferença. Nunca uma das equipas teve uma margem maior que essa. Num desconto de tempo, Paulo Jorge Pereira pedia que não houvesse “pressa nem precipitação no ataque”, mas ambos os defeitos iam-se notando.
A seleção foi para o descanso a ganhar por 12-11, mas a sensação de equilíbrio era evidente. Ainda assim, Portugal poderia agarrar-se ao conforto de nunca ter estado a perder na etapa inicial.
Depois de três jogos de castigo, Paulo Pereira voltou ao banco da seleção
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Esse cenário alterou-se rapidamente no segundo tempo, com o Brasil a passar para a frente. Os derradeiros 30 minutos foram uma dança de alteração de vantagem no marcador, mas sempre por escassas margens.
Portugal apostou várias vezes no sete contra seis, sem guarda-redes. Só que, apesar da tática ter rendido diversas ocasiões de finalização, Leonardo Vial Terçariol foi um monstro na baliza brasileira. O guardião fez nove defesas e recebeu o prémio de melhor em campo.
Com o passar dos minutos e o aproximar da fase decisiva, Rui Silva assumiu as rédeas do jogo nacional. E, nos últimos 20 minutos, houve uma definitiva homenagem ao código binário. Dos 18-19 aos 28-28, só houve diferenças de zero ou um golos no resultado.
Com a decisão da partida a ir para o photo finish, Portela falhou a hipótese de fazer o 28-26 a menos de dois minutos do fim, acertando no poste. Nos segundos finais deu-se a tal tripla sensação para Portugal. Uma vitória que se transformou em empate que tem sabor a derrota.
Segue-se Cabo Verde, na sexta-feira (14h30, RTP2), e a Suécia, no domingo (19h30, RTP2). Fiel às tradições, a seleção vai para esses jogos agarrado à calculadora.