Tour de France: Nelson Oliveira ficou às portas da história, mas Vauquelin prossegue a festa francesa
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Na segunda etapa da corrida, o português da Movistar esteve na discussão do triunfo, mas não aguentou o ritmo do gaulês que, na segunda subida a San Luca, foi para a vitória em Bologna. Pogacar atacou, foi seguido por Vingegaard, mas é o novo líder da geral
Teria sido uma consagração para um dos mais consistentes ciclistas portugueses da sua geração. Na 20.ª grande volta que disputa, Nelson Oliveira, o homem da Movistar que, aos 35 anos, é um dos mais respeitados no pelotão, roçou o primeiro triunfo da carreira na maior das corridas. Mas bateu no poste.
Na segunda etapa do Tour, a chegada a Bologna tinha como prato principal a dupla ascensão final a San Luca, o santuário que vê, lá do alto, a cidade. Depois da primeira passagem, Oliveira, contra-relogista de excelência, atacou na fuga. Foi acompanhado de Jonas Abrahamsen e Kévin Vauquelin e o trio abordou a última subida a San Luca com 30 segundos de vantagem para o resto dos escapados.
A vitória estava ali, a história para Nelson estava ali. Mas também estava Vauquelin, francês de 23 anos da Arkéa que, esta época, mostrou as suas credenciais de trepador ao ser segundo na Flèche Wallonne.
O gaulês atacou logo no começo da estrada para San Luca. Nas rampas que chegam a roçar os 20% de pendente, ganhou vantagem para os outros dois, subindo entre o mar de gente. Não mais seria alcançado. Depois de Bardet, na tirada inicial, o Tour continua a ser uma festa para os franceses, apesar de não estarmos em França. Nelson Oliveira terminaria em sexto.
Lá atrás, depois de algumas cautelas durante todo o dia, Pogacar atacou perto do topo em San Luca. Só Jonas Vingegaard o seguiu, dissipando algumas dúvidas sobre o estado de forma do bicampeão. Os dois colaboraram na descida, mas foram apanhados por Carapaz e Remco Evenepoel, formando um quarteto de candidatos que ganhou tempo à concorrência. Pogi é o novo camisola amarela.
Pogacar com Vingegaard na roda
Dario Belingheri/Getty
A etapa foi uma homenagem a Marco Pantani. O “pirata”, vencedor do Tour e do Giro em 1998, cresceu em Cesenatico, local de partida da tirada onde lhe dedicaram um museu e uma estátua.
Após o arranque, os 199,2 quilómetros até Bologna foram mais calmos do que o ritmo frenético e as ofensivas precoces da tirada inicial. Ao contrário do que se poderia antever antes da Volta a França, a UAE não tentou, coletivamente, preparar armadilhas para testar Jonas Vingegaard, talvez porque Wellens e Politt parecem, para já, longe da melhor forma. A iniciativa partiria, mais tarde, de Pogacar, a solo.
Aproveitando o ritmo suave do pelotão, uma numerosa fuga chegou a ter mais de oito minutos de avanço. Nela rodou Nelson Oliveira, que, ao oitavo Tour, tentou estrear-se a vencer. O português da Movistar não resistiria à dureza das rampas de San Luca, mas provou que a promessa que fez antes do Tour, quando disse ter o olho em triunfos de etapas, é para levar a sério.
Enquanto viajava pelas colinas da Emilia-Romagna, pelo ondulado terreno, pelas vinhas e quintas e paisagens de filme bucólico, o Tour ainda foi a tempo de visitar Imola, habitual palco de Fórmula 1.
Com as principais equipas em modo gestão, a emoção ficaria reservada para a parte final, com a dupla subida a San Luca e a conclusão em Bologna, a cidade dos estudantes, a terra da universidade mais antiga do Ocidente. As arcadas de Bologna, a terra que tem sete segredos, seriam as testemunhas da decisão da tirada.
Dario Belingheri
Dario Belingheri
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Na fuga da fuga, Vauquelin foi rápido a deixar claro que, a subir, era o mais forte. Ganharia com 40 segundos de vantagem para Abrahamsen. Oliveira seria apanhado por um grupo intermédio e nem discutiu o sprint, triste pela oportunidade perdida. Ficou em sexto.
Entretanto, em San Luca, Pogacar disparou. Mais a solo do que seria de esperar, mas disparou. Acelerou, leve e ambicioso, mas foi caçado pela lapa que vive em Jonas Vingegaard.
Ninguém os seguiu inicialmente, mas Evenepoel e Carapaz conseguiram, no plano, chegar lá. Para trás ficaram Bardet, que perdeu a camisola amarela, Ayuso, Yates ou Roglic.
Contas feitas, Pogacar, Evenepoel, Carapaz e Vingegaard ganharam 21 segundos aos demais concorrentes à geral, João Almeida incluído. O esloveno da Emirates é o novo camisola amarela, com o mesmo tempo que Remco, Jonas e Richard. João Almeida é 22.º, a 21 segundos. Mas foi Nelson Oliveira a sair de Bologna, uma das capitais da gastronomia italiana, com um sabor amargo na boca.