João Almeida faz 3.º no contrarrelógio final do Giro e segura histórico pódio. Colossal Roglic tira rosa a Thomas e é o virtual vencedor
Stuart Franklin/Getty
Na subida ao Monte Lussari que marcou a luta contra o tempo da 20.ª etapa, o português confirmou o 3.º lugar, bastando-lhe cruzar a meta na jornada de consagração, em Roma, para ser o primeiro ciclista nacional no pódio de uma grande volta desde Joaquim Agostinho, em 1979. Na luta pela rosa, Primoz Roglic, apesar de um problema mecânico, tirou 40 segundos a Geraint Thomas, passando para a frente da geral com 14 segundos de vantagem
Basta cruzar a meta da última etapa, a jornada de consagração em Roma, para que João Almeida consolide o seu nome na história do desporto nacional. Com um 3.º no duro contrarrelógio da 20.ª tirada do Giro d'Italia, João Almeida segurou o 3.º lugar na geral, tendo subida marcada ao pódio final da corrida. Desde Joaquim Agostinho, 3.º no Tour de France 1979, que nenhum português lograva tal feito.
A subida ao Monte Lussari voltou a ser uma batalha entre Roglic e Thomas, com Almeida assistindo como o terceiro melhor. O esloveno, a correr quase em casa, lutava contra os fantasmas de 2020, quando perdeu o Tour no contrarrelógio final para Pogacar. Quando, em plena ascensão, Roglic teve um problema mecânico, a maldição parecia voltar a atormentar o homem da Jumbo-Visma. Mas houve um Primoz colossal.
Com uma subida épica, andando pelas rampas acima dos 15% de inclinação média vitoriado pelo muito público esloveno, Roglic ganhou a etapa e a camisola rosa. Ganhou 40 segundos a Geraint Thomas, o britânico que agora tem 14 segundos de desvantagem para o esloveno, virtual vencedor deste Giro contra os seus próprios demónios.
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A penúltima tirada do Giro era a última em que a geral poderia ser mexida, antes da consagração de Roma, e apresentava-se como um dos dias mais exigentes que se verão em 2023 no ciclismo de topo. Depois de 10 quilómetros planos, partindo de Tarvisio, subiu-se o Monte Lussari, com as suas rampas íngremes e estradas ladeadas de árvores. Eram 7,8 quilómetros a 11,2% de inclinação média, com várias fases acima dos 15% de pendente.
O contrarrelógio partia de terra familiar para Roglic. Em Tarvisio, bem perto da sua Eslovénia e com imensos compatriotas a apoiarem-no, o líder da Jumbo-Visma já sabia o que era ganhar. Mas noutra modalidade. Ali, em 2007, venceu nos Mundiais de juniores de saltos de esqui, na vida competitiva que teve antes das bicicletas.
Inspirado por isso, Roglic foi fazendo o melhor tempo em cada ponto intermédio, ameaçando uma reviravolta que espelhasse o que Pogacar lhe fez em 2020.
Todo de branco, símbolo da classificação da juventude que vencerá, João Almeida arrancou com face focada e determinada. O caldense, tal como os seus rivais, trocou de bicicleta depois dos 10 quilómetros planos, mudando a máquina de contrarrelógio por uma mais adaptada às subidas. Aí, Thomas também terá perdido alguns segundos, mas a verdadeira diferença foi feita na ascensão final deste Giro.
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Roglic subia no seu estilo predatório, um homem vigoroso e consistente, todo ele controlo animado pelos eslovenos que, nalguns instantes, chegaram a parecer um perigo para o tricampeão da Vuelta.
Os tempos parciais iam mostrando que a ultrapassagem do esloveno da Jumbo-Visma ao britânico da INEOS estava próxima. Mas, já perto do fim, veio o momento que levou os companheiros de Roglic a colocarem as mãos na cabeça e os fantasmas de 2020 a ressurgirem: a corrente da bicicleta do antigo saltador saiu, vendo-se obrigado a mudar de máquina.
Só que o que parecia tragédia virou pano de fundo épico para engrandecer o feito de Primoz. Mesmo com aquele contratempo, ganhou o contrarrelógio com 40 segundos de vantagem para Thomas e 42 para João Almeida. A rosa é dele, o Giro também será após o dia de consagração em Roma.
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João Almeida fechará a corsa rosa em 3.º lugar, a 1,1 minutos de Thomas e 1,15 de Roglic. Depois dos 14 dias de liderança e do 4.º lugar em 2020, do 6.º de 2021 e do abandono da edição passada, é mais um feito para o português de 24 anos.
Só Joaquim Agostinho conseguira estar num pódio do Giro, Vuelta ou Tour. Fê-lo em três ocasiões. João Almeida, de bigode na face e consolidando o seu crescimento competitivo, quebrará o jejum em Roma.
O feito do homem de A-dos-Francos ganha relevância perante a oposição que teve, dois consagrados como Roglic e Thomas. No final, enquanto o público esloveno gritava “Rogla, Rogla, Rogla” em uníssono, Thomas, desportista exemplar, ia dando os parabéns aos homens da Jumbo-Visma. Craque com bicicleta e sem ela.