Automobilismo

A ponte é uma passagem para a outra margem (muita água em Fronteira)

A ponte é uma passagem para a outra margem (muita água em Fronteira)

Rui Cardoso

Jornalista

As chuvadas de quinta-feira condicionaram os treinos de qualificação para as 24 Horas de Fronteira, obrigando a usar pontes de emergência sobre as ribeiras

Em 1985 os Jafumega tornaram-se famosos com uma canção chamada “A Ponte é uma Passagem (para a outra margem)”. E a organização das 25ª BP Ultimate 24 Horas de Fronteira fez seu o lema do grupo portuense, decretando, por razões de segurança, que as três principais linhas de água cruzadas pelo terródromo só pudessem ser transpostas com recurso às pontes alternativas construídas em 2006. Razão: as chuvadas de quinta-feira tinham engrossado muito a corrente, bem como o nível das águas.

Três pontes feitas a 30 km/h

Como as pontes são muito estreitas e a aproximação a estas se faz em ângulo recto, foi imposta uma limitação de velocidade (30 km/h) nessas três zonas. Isso reflectiu-se nos tempos dos treinos de qualificação: onde os mais rápidos faziam dez minutos por volta e por vezes menos alguns segundos, desta vez quedaram-se pelos 11 minutos. E quem normalmente faz 14 ou 15 minutos (o perímetro do circuito é de 16,4 km) fez 16 ou 17. Foi o caso do autor desta crónica que com uns magníficos 17 minutos e mais qualquer coisa se teria visto relegado para a antepenúltima fila da grelha não fossem os azares de outros concorrentes relegados por despiste ou avaria para mais três linhas suplementares.

Registe-se que a pole position foi conquistada pela Toyota Hilux Overdrive V8 do campeão nacional de TT Tiago Reis, acompanhado pelo pai Avelino, o irmão Edgar e o cunhado Daniel Silva. Logo a seguir os vencedores do ano passado, a equipa de Franck Cuisinier (MMP), a 4,9 segundos. O Can-Am da formação de Jean-Philippe Beziat completou o pódio dos treinos cronometrados, seguindo-se o Fouquet Nissan de Manuel Aires. O novo Proto Clio V6 da Andrade Competition, crónica vencedora de Fronteira, vai partir em 5.º lugar. Registe-se este sinal de mudança: nos dez primeiros há quatro SSV (vulgo aranhiços), avizinhando-se o dia em que um destes veículos destronará os protótipos, tal como estes destronaram os jipes e pick-ups a partir de 2004 (a prova, criada pelo falecido José Megre, disputa-se desde 1998).

A Liga dos Últimos

Neste ano em que me conto despedir do TT competitivo (já começo a ter idade para ter juízo), volto a insistir num ponto capital: numa largada com quase 90 carros só há dois lugares ideais: ou lá muito à frente, ou bastante lá atrás. Tudo o resto é uma molhada monumental com sérios riscos de chapa amolgada. Será, portanto, da quarta fila da grelha (a contar do fim, é claro) que vos descreverei em próxima crónica as emoções da largada (lá mais para o fim da tarde, visto que a partida será às 15.00 de hoje, sábado, dia 2 de Dezembro, após o final da prova de quatro horas reservada aos SSV). Estarei bem acompanhado por outros crónicos participantes na Liga dos últimos: a pick-up Nissan de Miguel Espírito Santo, a Peugeot 504 de Joaquim Serrão ou o Renault 4 de Samuel Lima, sem esquecer o UMM de Jorge Correia ou o Suzuki da equipa integralmente feminina de Silvia Reis. Para o naipe estar completo só faltariam Fernando branco em Lada Niva ou João Pedro Santos de UMM Alter Turbo…

E a pista não se afundou…

Termino esta crónica falando-vos do estado geral da pista tal como o fui observando desde quinta-feira a meio da tarde, ou seja desde o dilúvio bíblico que se abateu sobre o Norte Alentejano, cortando estradas e inundando muito campo. Na quinta à tarde, percebia-se que, mais hora menos hora, as ribeiras iriam ficar intransponíveis. De 50 em 50 metros havia gordos regatos a atravessar a pista. E as zonas mais baixas ou situadas entre lombas, estavam a transformar-se em piscinas.

Paulo Maria/ACP

Sexta-feira à tarde, durante os treinos, a pista revelava-se surpreendentemente resistente à intempérie com uma ou outra zona cheia de poças fundas e de regueiras mas em geral sólida e praticável. A única excepção eram as saídas das três pontes, muito lavradas pela passagem de sucessivos concorrentes. Tal como sucedeu na edição de 2006, haverá um momento em que se tornará preferível arriscar a passagem a vau, sob pena de se gerar um atasqueiro onde poucos conseguirão passar.

Disso vos falarei nas próximas crónicas aqui na Tribuna até domingo à tarde (a corrida termina domingo dia 3 de Dezembro às 15 horas). E termino com uma correção porque factos são factos: o concerto de sexta-feira à noite, aqui no recinto da corrida, foi de Quim Barreiros e não dos Xutos. Estes abrilhantarão os festejos da 25ª edição das 24 Horas de Fronteira sábado, a partir das dez da noite. O seu a seu dono.

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: rcardoso.expresso@gmail.com