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A casa às costas

“No Japão, vão para o estádio horas antes, marcam no chão com fita-cola o lugar na fila para entrar, deixam os pertences e vão divertir-se”

“No Japão, vão para o estádio horas antes, marcam no chão com fita-cola o lugar na fila para entrar, deixam os pertences e vão divertir-se”
MASASHI HARA

Aos 28 anos, Tiago Alves está a jogar no Japão, numa aventura pelo estrangeiro que começou na Polónia, onde jogou na I e na II divisão e passou também pelo Brasil. O avançado conta como a sua carreira tem sido feita de altos e baixos, fala do gosto pelo futebol da região da América Central e Latina, e assume que teve de recorrer a ajuda psicológica. O jogador enaltece o respeito e a organização dos japoneses, revela o susto que apanhou no primeiro terramoto que vivenciou e conta uma história que mete pancada e cocaína

Quando chegou à Polónia para jogar no Olimpia Grudziadz, quais foram as primeiras impressões?
Um frio descomunal, era final de janeiro. Cheguei com aquela meia curtinha, com o tornozelo a ver-se e estava tudo nevado, o clube fica numa zona mais a norte da Polónia. O diretor foi buscar-me ao aeroporto de Varsóvia, fomos de carro para cima. Parámos porque tínhamos de ir ver um jogo amigável que a minha equipa estava a fazer. Vi um pouco do jogo com ele, mas nem consegui ligar muito ao jogo porque estava com tanto frio [risos]. Ele deu-me um casaco que tinha no carro.

Gostou do pouco que viu?
Não me interessou o jogo, sinceramente, só pensava no frio. Depois fui para a cidade de Grudziądz e, na verdade, gostei quando conheci o clube. Tinha um relvado bom, o diretor falava inglês, eu por acaso tinha andado numa escola a aprender inglês no ano anterior, por isso o meu inglês era razoável, o que me ajudou no contacto com esse diretor. O treinador não falava inglês. Mas notava que o treinador gostava de mim. Ele demonstrou interesse que eu fosse, senti-me valorizado a nível de contratual. Tudo isso foi importante.

Como foi recebido no balneário? Com desconfiança?
É normal, era um português num clube onde só estavam polacos. Havia um ou outro que não ia muito com a minha cara, mas eu também não ia muito com a cara deles. Havia um que era da minha posição com o qual não havia empatia nenhuma, mas considero que era mais por culpa dele, porque eu é que estava a chegar. Geralmente existe rivalidade com quem é da nossa posição, mas acabo por me dar sempre bem com ele porque nos treinos estamos quase sempre obrigados a estar juntos nos exercícios, então acabamos por nos dar bem. Mas, ali, ele não foi com a minha cara e eu também não fui com a cara dele [risos]. Fora isso, o pessoal depois começou a gostar de mim e convidava-me para sair à noite ou para jantar em casa deles. Os polacos gostam muito de beber álcool, então havia sempre muito álcool [risos].

Fez alguma amizade em especial nessa equipa?
Passado uma ou duas semanas chegou um espanhol à equipa e que hoje é um dos meus melhores amigos, o German Ruiz. Os nossos pais conhecem-se e tudo. Ele já deixou de jogar, mas todos os anos nos juntamos para passar um fim de semana, pelo menos. Na Polónia vivemos no mesmo hotel e acho que isso também ajudou na adaptação, porque éramos os únicos estrangeiros.

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