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A casa às costas

“Em quase todos os jogos com o FC Porto senti-me prejudicado. A maneira como insultavam os árbitros e não lhes acontecia nada”

Nos festejos da conquista da Taça, com Balakov ao lado
Nos festejos da conquista da Taça, com Balakov ao lado
D.R.

Filho de militar, Marco Aurélio começou a jogar futebol apenas com 15 anos e, sete anos depois já era campeão do Brasil, pelo Vasco da Gama, clube do coração. A vinda para o União da Madeira, onde se deparou com um clube pequeno, com uma sede toda queimada, pareceu ser um retrocesso, tendo jogado inclusive na II Divisão. Sem perder o foco, acabou por chamar a atenção dos três grandes e foi no Sporting que ganhou fama como central e capitão. Atleta de Cristo, conta várias peripécias que viveu no futebol português antes de partir para Itália, onde jogou mais oito anos

Nasceu no Rio de Janeiro, Brasil. Comece por apresentar a sua família.
Tenho uma irmã, Valéria, três anos mais velha. O meu pai foi militar no período em que o Brasil vivia de ditadura militar. Eu nasci nesse período. A mãe nunca trabalhou, ficou sempre em casa. O meu pai estava, entre aspas, do lado dos militares, mas era um período muito difícil no Brasil, em todos os sentidos. Ele sempre lutou. O meu pai hoje tem 88 anos, tem Alzheimer, não está com as suas faculdades completas e vivas, mas lembra-se de muitas coisas e conta-me alguns horrores da época da ditadura militar, infelizmente.

Em criança deu muitas dores de cabeça ou era calmo?
Dei muitas dores de cabeça, porque sempre fui muito ativo. Os meus pais sempre me deram a incumbência de estudar e tirar boas notas, mas poderia, de certa forma, gerir um pouquinho a minha vida, no sentido de que se eu fizesse todas as tarefas que tinha de fazer, depois eu ficava livre para brincar. Eu tinha aulas de manhã, almoçava, ficava a estudar até às quatro da tarde e depois só voltava para jantar às sete, oito horas da noite.

Brincava na rua, claro.
Com certeza. Naquela época não tínhamos tantos prédios e casas, então jogávamos, corríamos, íamos buscar frutas, íamos para todo o lado, desaparecíamos naquele mundo verde que era imenso. Eu morava no interior do Rio, Nova Iguaçu, numa cidade que hoje é imensa, tem mais de um milhão de pessoas. Foi uma infância maravilhosa. Feliz de tudo o que um miúdo pode querer fazer.

Gostava da escola?
Gostar não gostava. Eu tinha um compromisso com os meus pais e o meu pai era muito bravo. Nunca apanhei do meu pai, mas a voz dele era uma voz de muito respeito dentro de casa.

Qual era o seu maior sonho quando era criança?
Eu acho que desde o berço sonhei ser jogador de futebol.

Tinha alguém na família ligado ao futebol?
Ninguém.

De onde veio então essa paixão?
O meu pai e o meu avô sempre foram vascaínos e eles incutiram essa cultura de adepto em mim. Escutávamos muito futebol na rádio, a briga entre o Vasco e o Flamengo. Aquilo foi criando em mim uma fantasia de ser jogador de futebol. Dei muitas entrevistas a tomar banho [risos]. A minha mãe ficava brava por eu estar tanto tempo debaixo de chuveiro, porque eu dava longas entrevistas, eu via-me no Maracanã, eu via-me a falar do jogo, do resultado dos jogos, daquilo que eu tinha feito. Sempre tive imaginação, era um sonho.

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