Acabou por aceitar o convite do Ludogorets Razgrad, da Bulgária, porquê?
Primeiro rejeitei. Propuseram-me um salário, disse-lhes que por aquele valor não ia. O meu objetivo era não ir, não queria sair de casa. Por isso pedi-lhes um valor a pensar que não iam dar. Mas ligaram a dizer que davam-me o que pedia. Vi-me numa situação em que tinha de ir. Passei uma semana em que nem comia, porque era mesmo contra a minha vontade, não queria mesmo ir. Tinha receio de não me adaptar. Respondi-lhes que não ia.
Como reagiram?
Ficaram chateados, claro, porque tinham acedido ao que pedi, sentiam que eu estava a gozar. Entretanto, tinha deixado aquela situação em banho-maria com o Arouca. Fui para o Algarve de férias e a minha esposa disse-me: “Acho que estás a ser burro em não aceitar a proposta da Bulgária. Ainda para mais estamos agora com uma filha pequena. Já vais fazer 28 anos, tens de começar a pensar também na parte financeira”. Caiu-me a ficha outra vez. Já tinha rejeitado há duas ou três semanas, mas liguei ao empresário. Disse-lhe que estava arrependido e perguntei se ainda havia possibilidade de ir para a Bulgária. Felizmente, as coisas correram bem e fui.
Sozinho ou com a mulher e filha?
Fomos os três. A Carolina ainda só tinha três meses.
Como foi o primeiro impacto?
Tenho uma imagem na cabeça de quando aterrava, olhei pela janela do avião e vi Sófia. Estava sozinho, ia para assinar. É uma cidade muito bonita, mas quem chega e vê aquilo tudo muito antigo, prédios muito velhos e partidos, foi uma imagem chocante para mim, só pensava, vou ter de ficar aqui a viver dois anos, no mínimo. Quando entrei no hotel, fui ao último andar, tinha uma vista panorâmica sobre a cidade e fiquei uns 20 minutos a olhar lá para fora, a pensar, a chorar, com receio, mas, ao mesmo tempo, com vontade. Era um turbilhão de emoções.
Como era o seu inglês?
Era muito limitado, só sabia coisas muito básicas. A Sara falava bem inglês. Mas, com a necessidade, fui aprendendo.
A sua mulher trabalhava?
Sim, ela tem o curso de professora primária, com variante de Educação Física. Chegou a dar aulas, mas na altura trabalhava num ginásio, em Espinho, e deixou para ir comigo.