Perfil

A casa às costas

“Na Polónia, o treinador queria que déssemos cambalhotas agarrados a bolas gigantes e atirássemos bolas de 10kg contra a parede. Era maluco”

Alexandre Guedes revela nesta segunda parte da entrevista porque não gostou da experiência na Polónia, onde teve um treinador que chegava a aparecer apenas no dia dos jogos e às vezes obrigava os jogadores a treinos físicos estranhos, no ginásio. Depois de um ano a viver com a família no Japão, onde jogou na I divisão, o avançado quis regressar à terra do sol nascente e confessa que, se tiver oportunidade de levar novamente a mulher e os dois filhos, vai continuar por lá

Alexandra Simões de Abreu

Koji Watanabe

Partilhar

Como reagiu quando o empresário lhe apresentou a hipótese Vegalta Sendai, da I Liga japonesa?
Estava em casa, ia jantar com a minha mulher, quando ele me ligou. Ficamos um bocado naquela, será que é fixe? Comecei a informar-me com colegas que já lá tinham ido de férias e toda a gente falava bem. Decidi aventurar-me.

Já tinha voltado a ser pai?
Sim, passado um ano e dois meses do nascimento do Santiago, nasceu o Sandro.

Quando aterrou em Tóquio e olhou à volta o que sentiu e pensou?
Pensei: "Estou noutro planeta" [risos]. Só prédios e prédios. É um mundo à parte. Ao nível da construção, tecnologia, organização, estão muito, muito à frente do resto do mundo. Fiquei impressionado. Assim que cheguei, fui logo para uma estação para apanhar o comboio para Sendai, uma cidade grande também, com prédios enormes e pessoas muito acolhedoras.

Foi com a mulher e os dois filhos?
Eles vieram passado um mês e meio e estiveram comigo o ano todo.

Que tal era o clube?
Muito acolhedor, ajudaram-nos em tudo, tínhamos um tradutor para tudo.

Como era o seu inglês?
Eu não precisava de falar inglês. Falava português, tinha um tradutor que ia comigo para todo o lado, para o campo, para as entrevistas. Se eu precisasse de alguma coisa ele ajudava. No dia a dia, eu falava o inglês básico e a minha mulher também. É muito mais fácil estar no Japão do que estar na Polónia onde estive há um ano. As pessoas no Japão são muito mais gentis, tentam perceber o que estamos a dizer, se não conseguirem, pegam no tradutor do telemóvel. É uma cultura completamente diferente.

E os treinos, o futebol?
Os treinos são bastante fortes, corremos muito. Em quase todos os treinos parecia pré-época, tínhamos de fazer corridas. Custou. Se tivesse apanhado um treinador estrangeiro seria mais parecido com o que estava habituado. Quanto ao futebol, o jogador japonês tem muita qualidade, o problema deles é na tomada de decisão, nem sempre é a melhor. Mas vemos cada vez mais japoneses a ir para a Europa, porque qualidade têm, não têm é as bases que eu e muitos dos meus colegas tivemos.

Artigo Exclusivo para assinantes

No Expresso valorizamos o jornalismo livre e independente

Já é assinante?
Comprou o Expresso? Insira o código presente na Revista E para continuar a ler