Pensem em registos de precocidade no ténis feminino. Derrotar uma adversária do top 20 com menos de 16 anos? Só sete jogadoras o fizeram no século XXI. Michelle Larcher de Brito conseguiu-o em duas ocasiões. Ganhar o Orange Bowl, muitíssimo prestigiado torneio de juniores, com 14 anos, 10 meses e 11 dias? Michelle fê-lo em 2007, sendo na altura a segunda mais nova de sempre. Mais jovem do século XXI a vencer um encontro do quadro principal de um torneio WTA? A portuguesa atingiu esse estatuto em Miami, com 14 anos, um mês e três dias.
Ganhar um set a Serena Williams com 15 anos? Check para a lisboeta. Entrar no top 100 do ranking com 16 anos? Pois claro.
Olhem para os registos históricos do ténis feminino nacional. Em 17 ocasiões houve uma portuguesa no quadro principal de um torneio do Grand Slam. Michelle esteve lá 10 vezes, todas as outras jogadoras juntas somam sete presenças. Só uma entrou no top 100. Foi Larcher de Brito, chegando à 76.ª posição da hierarquia mundial com 16 anos — para contextualizar, neste momento não há, sequer, ninguém com menos de 18 anos entre as 100 melhores raquetas femininas do planeta.
Tudo isto fez Michelle. Até às 22 voltas ao sol, bateu cinco mulheres que estiveram em finais de majors (Agnieszka Radwanska, Svetlana Kuznetsova, Flavia Penetta, Maria Sharapova e Ana Ivanovic). Venceu contra Coco Vandeweghe, Kristina Mladenovic, Barbora Strycova, Mirjana Lucic-Baroni ou Magdalena Rybarikova, todas ocupantes do top 20 num dado momento das respetivas carreiras.
E há exatamente 10 anos, a 26 de junho de 2013, logrou o mais mediático e impactante feito jamais obtido por uma tenista portuguesa, impondo-se a Maria Sharapova em Wimbledon. Mas a precocidade tem um reverso da medalha: cedo chegaram sinais de cansaço, saturação e desmotivação.
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