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O tenista que se apressou no tempo diz que Carlos Alcaraz “não te dá tempo”

Tem vários recordes de precocidade, já ganhou a Djokovic, Nadal e Federer e tem um rácio de vitórias positivo em duelos com o nome que, por estes dias, mais agita ao ténis. Enquanto júnior, Félix Auger-Aliassime antecipou-se a Carlos Alcaraz em quase tudo, hoje até tem três vitórias em quatro jogos feitos com ele, mas o canadiano de 22 anos reconhece que o jogador “a bater neste momento” é o espanhol de 19

Diogo Pombo

Graham Denholm/Getty

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Ainda Félix Auger-Aliassime era ninguém e já o seu nome ameaçava ser alguém. As notícias propagaram-no com idade precoce quando se soube que era o jogador mais novo da história a qualificar-se para o quadro principal de um torneio ATP, tinha ele 14 anos, um recém-entrado na adolescência. Um breve exercício de Google devolve, em segundos, o rasto de precocidade que o acompanha: é, também, o mais novo a pontuar em provas do circuito masculino, o segundo mais novo a defender um título Challenger, com 17 anos, e o semifinalista de um Masters 1.000 com menos idade (18 anos) da história. Já agora, foi o primeiro tenista nascido neste milénio a pontuar no circuito ATP.

Filho de um imigrante do Togo no Québec que se casou com uma mulher da diáspora francesa, Félix nasceu no Canadá para ser um fenómeno de promessas madrugadoras no ténis. Mais um. Na vida da bola amarela a ser batida por raquetes em relva, terra e piso rápido não faltam jovens que muito prometem enquanto juniores, ganhando Grand Slam para caçulas (Aliassime venceu o US Open, em 2016) e rondando o cume do ranking (o canadiano chegou a ser 2.º). Ele foi o contrário de Carlos Alcaraz e contrapor os dois tenistas prova o precipitado que é adivinhar proezas adultas a partir de sucessos adolescentes.

Em júnior, o melhor do espanhol foi um 22.º da hierarquia e um par de conquistas de torneios ITF, não era um tenista incógnito, mas via muitos outros a terem o protagonismo que lhe escapava embora não fugisse ao olho treinado de Juan Carlos Ferrero, antigo jogador que o treina desde os 12 anos, quando se conheceram. Já lhe farejava o sucesso em gestação, pois hoje o dono do mais apetecível recorde prematuro é Alcaraz, não Aliassime - aos 19 anos, quatro meses e seis dias de idade, o espanhol virou o número um mundial mais novo da história, após vencer o seu primeiro Grand Slam em Nova Iorque.

Por lá mostrou, com toda a efervescência do seu jogo, os brutos winners a colocaram pancadas nas linhas e a capacidade de sacar amortis estando em qualquer parte do campo. “Tem tudo para ser perigoso. Quando jogámos em Indian Wells esteve sempre muito agressivo, a movimentar-se muito rápido a batendo muito duro na bola”, resumiu Félix Auger-Aliassime em entrevista ao “El Mundo”, embrulhando a descrição do espanhol numa breve conclusão. “Ele não te dá tempo”, diz um tenista de 22 anos sobre outro com 19, ambos ainda cheios do que o canadiano se queixa em relação Alcaraz.

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É curioso vindo de quem vem e sobre quem é. Os dois tenistas são o futuro do ténis, embora o canadiano admita que o espanhol “é o jogador a bater agora mesmo”. Apesar do jogador de Murcia reunir o frenesim da modalidade por estes dias, a sensação de lhe ganhar é familiar ao canadiano: nas quatro partidas que tiveram, Alcaraz só não perdeu a última, nos quartos de final do recente Masters de Indian Wells. “Conhecemo-nos bem, ganhei-lhe no passado a servir muito bem e a conseguir ditar as condições do jogo”, radiografou Auger-Aliassime, um perito em ganhar a nomes pomposos do ténis.

Mesmo ainda tão jovem, o canadiano tem vitórias contra Novak Djokovic, Rafael Nadal e Roger Federer. Ao primeiro gaba a “maior consistência entre os três”, do segundo tem o tio, Toni, que hoje é seu treinador e o ajuda, com “um discurso eficiente e palavras simples” a “desenvolver uma maior confiança” nele próprio. E com o terceiro partilha o dia de aniversário. Auger-Aliassime, atual 9.º classificado do ranking ATP, tem história com os maiores nomes com quem ainda coincidiu desta era do ténis e também com quem a modalidade parece vir a ser carregada na próxima década.

Mas a questão, claro, é o tempo. O que Carlos Alcaraz rouba aos adversários pela velocidade das bolas que bate e o que está por diante do canadiano, de quem se espera uma das maiores perseguições ao talento do espanhol.