Na sua história de mais de 30 anos e vários organizadores, o Estoril Open habituou-nos a duas coisas: a ser um dos pontapés de saída para a temporada de terra batida, tornando-se, portanto, palco privilegiado da glória de europeus do Sul e sul-americanos, naturalmente jeitosos nessa superfície, e ao olho para desvendar futuras figuras do circuito que nem programa televisivo de talentos, apesar de ser um modesto torneio da categoria 250. Por cá passou um adolescente Rafael Nadal em 2004, um ano antes de vencer pela primeira vez Roland Garros. Em 2007, com apenas 19 anos, Novak Djokovic recebeu das mãos de Eusébio o troféu de campeão. Já na sua nova versão, em 2015 foi no Estoril Open que Nick Kyrgios atingiu a sua primeira final ATP. Stefanos Tsitsipas jogou por cá em 2018, quando ainda estava fora do top 40, e Carlos Alcaraz brilhou no quadro de qualificação em 2021, para cair frente ao veterano Marin Cilic na 1ª ronda.
Ben Shelton, jovem de 20 anos, número 39 mundial e ontem confirmado como um dos wild cards do torneio, cujo quadro principal arranca na segunda-feira, poderá muito bem ser um nome a juntar a esta lista daqui a alguns anos. O norte-americano, que se distinguiu no circuito universitário do seu país, fará no Estoril Open a estreia absoluta a jogar na Europa como profissional, depois de chegar com surpresa aos quartos de final do Open da Austrália. Mas a grande figura da edição deste ano do único torneio ATP em território nacional é alguém que foge às duas premissas iniciais sobre a prova. Bem, talvez não. Casper Ruud nasceu há 24 anos, em Oslo, na Noruega, mas quem o vê jogar não se admiraria se tivesse vindo ao mundo algures na Argentina ou numa localidade espanhola junto ao mar. Em 2018 mudou-se para a academia de Rafael Nadal, em Manacor, nas ilhas Baleares, e dois anos depois venceria em Buenos Aires o seu primeiro título ATP. Curiosamente frente a um português, Pedro Sousa, e em terra batida. Em 2022 chegou a duas finais de torneios do Grand Slam (Roland Garros e US Open) e é já como tenista consagrado que se estreia no Estoril, com o posto nº 4 no ranking mundial como impressionante cartão de apresentação.