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“É um desporto individual, tens de estar sozinho”: Justine Henin, a ex-número 1, está contra o coaching (agora permitido) no ténis

Em conversa com a Tribuna Expresso, a tenista que esteve 117 semanas como número 1 mundial, retirando-se depois aos 25 anos, explicou porque não concorda com o novo teste anunciado pelos circuitos feminino e masculino para a segunda metade de 2022

Hugo Tavares da Silva

Cameron Spencer/Getty

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O US Open quase aí e, além da novidade que é poder espremer uma de cinco possibilidades para número 1 do circuito masculino, de mão dada com as 1001 possibilidades que acontecem no mapa das mulheres, haverá uma novidade neste torneio: o teste para coaching (indicações do treinador) que entrou em vigor para a segunda metade da temporada.

Ou seja, mediante algumas regras, será possível os treinadores chegarem finalmente e legalmente aos ouvidos dos tenistas. Deixaremos de ter avisos (warnings), desaparecerão os truques de comunicação e as mãos e os olhos que falam? Logo veremos.

Apesar de tudo, há limites para o coaching. Por exemplo, os treinadores terão de estar num lugar específico para poderem comunicar com o atleta. O coaching será permitindo sempre que não interrompa o jogo ou represente um obstáculo para o adversário. Mais: essas indicações só podem acontecer quando o jogador está no mesmo lado do court do seu treinador. Os gestos e a comunicação não verbal, aquela silenciosa rota secreta para as soluções, está permitida em qualquer momento. O que está proibido é haver conversas e trocas de ideias. Se o atleta sai do court, seja por que razão for, não pode falar com o treinador. Finalmente, as penalizações e multas continuarão a aplicar-se em caso de abuso ou até mau uso das especificidades mencionadas.

Taylor Fritz, atual número 12 do ATP, considerou o teste uma medida “idiota”. Já Daniil Medvedev, o líder do ranking, não tem nada contra, embora preveja pouco impacto. Já Justine Henin, a tenista que se retirou do ténis com apenas 25 anos, quando liderava o WTA, está completamente contra, admitiu em conversa com a Tribuna Expresso e outros jornalistas, numa mesa digital.

Al Bello

Cameron Spencer

“É um desporto individual, tens de estar sozinho”, assim começa a ex-atleta que conquistou sete Grand Slams, dois deles no US Open. “O momento em que estás sozinha, na tua cadeira, entre dois jogos, é algo poderoso. Muitas coisas podem acontecer. És tu e tu própria, gosto da ideia de manter isso.”

Henin, que até regressou ao ténis para depois se reformar definitivamente em 2011, graças a uma lesão grave no cotovelo, recordou o único warning que recebeu quando Carlos Rodriguez, o treinador, lhe disse algo. O argentino usou apenas as mãos, recorda a ex-número 1, e limitou-se a dizer para a belga entrar mais no court. O limite era aí, conta.

“Falar das bancadas sempre aconteceu, com diferentes intensidades”, continua a ex-tenista, agora comentadora na televisão. “Não era tolerado até agora, mas sabemos que toda a gente o fazia de certa forma. Não era um problema. O problema é alguns treinadores terem começado a falar mais e mais, a toda a hora, para o jogador. Não gosto disso.”

O que Henin aprecia mesmo é a dimensão solitária do jogo, da resolução de problemas, do protagonismo pessoal, sem fantasmas ou vozes em cima do ombro. “O jogo já foi preparado, no court é um desporto individual. Gosto que o jogador esteja sozinho”, sentencia.

O US Open vai jogar-se entre 29 de agosto e 11 de setembro, em Nova Iorque.