Levar a proeza bípede ao Pipeline Masters, no Havai, é das peregrinações prediletas para um surfista. Ser convidado a ir espreitar nos confins das cavernas aquáticas de tais ondas, tubulares por excelência, fez Nicolau Von Rupp contar três semanas entre dezembro e janeiro no arquipélago americano. Retornado a Portugal, nem tempo houve para reabituar o corpo aos confortos de casa: cinco dias após aterrar, recebeu uma chamada a avisar que o Eddie Aikau, icónica prova de ondas gigantes, estava em pulgas por uma ondulação magicada pelo mar e apontada ao mesmo arquipélago plantado no meio do Pacífico. Eram fartas as hipóteses de o evento se realizar, lá tinha de ir o português outra vez: “Meti-me num voo, reservei com 24 horas de antecedência e pus-me a caminho do Havai”.
Quando chegou Havai, porém, “o campeonato foi cancelado” e sentiu-se “perdido”. A pressa da viagem fê-lo empacotar apenas “uns calções e o colete de segurança” que cada humano desafiador das suas hipóteses de sobrevivência leva para as ondas mais revoltas que há. Nicolau tinha quase nada, no bolso ainda estava o telemóvel e agitou-se com outra chamada, de novo portador do tipo de notícias que faz tilintar o coração dos amantes de ondas do tamanho de prédios. “Recebo uma chamada do Bill Sharp e do pessoal da HBO que faz aquela série da Nazaré, a ‘100 Foot Wave’, a dizer que estava a organizar uma expedição para o meio do Pacífico, a uma onda mítica que é Cortes Bank, que estavam a planear há dois ou três anos”. As palpitações cardíacas tremeram-lhe no peito.