Uma questão de tempo, só pode, um dia lá chegará de rompante e na crista do merecimento pelo talento que tem para domar os traços de caráter atirados pelo mar contra a areia, a pedra, o coral, venha o oceano e escolha. A conversa a aproximar Vasco Ribeiro do circuito mundial de surf existe há muitos anos, ainda era adolescente e já o falatório sobre o rapaz da linha de Cascais, residente perto da praia da Poça, redundava nessa perspetiva. Durante uns tempos, o mar não terá a sua companhia.
O cinco vezes campeão nacional vai ausentar-se das ondas para “investir na saúde mental” da qual “parte tudo o resto”. Por escrito e em quatro parágrafos, Vasco Ribeiro revelou no Instagram, na noite de sexta-feira, que “o último ano tem sido bastante desafiante e tem vindo a piorar de uma maneira que, sozinho, já não estava a conseguir gerir”. Aos 27 anos, decidiu parar indefinidamente: “chegou a altura de pedir ajuda profissional para conseguir voltar um dia a lutar pelos meus sonhos”.
Às conquistas nacionais foi juntando, com os anos, o título de campeão europeu em 2021, muito depois de ser campeão mundial júnior, em 2014. No ano seguinte, surfou pela primeira vez uma etapa do circuito mundial da World Surf League, em Peniche, deslizando com a força de uma surpresa: terminou em 3.º lugar, eliminando gente mais do que experimentada como Adriano de Souza, Jérémy Florès ou Michel Bourez. “Comecei a competir com apenas 9 anos, e logo na primeira prova, comecei a vencer. Na minha carreira, tudo aconteceu com muita rapidez, intensidade e sucesso”, escreveu, na mesma publicação.
No entanto, acrescentou, “enquanto estamos a ganhar tudo parece fácil e muitas vezes não nos apercebemos do quão difícil é a vida de um atleta de alto rendimento”. Vasco Ribeiro admite que tinha “pouca vontade de fazer as coisas que [lhe] são mais importantes” e que o seu “compromisso” é com “a estabilidade, a família, os amigos” e as “duas filhas lindas” que são o seu “maior motor para esta nova fase”.
Em 2020 e além do circuito nacional, onde venceu a primeira etapa na Figueira da Foz, o surfista participou no MEO Rip Curl Pro, em Peniche, a contar para o mundial da WSL, esteve em três provas da Challenger Series - o principal circuito de qualificação para a entrada na elite - e ainda competiu em duas etapas do Qualifying Series, espécie de circuito regional que determina quem pode surfar nos principais eventos que dão pontos a quem pretende chegar ao dream tour, como tantas vezes é apelidado.