O pai é português e a mãe galesa, mudada para Inglaterra em criança e já adulta para Portugal, onde Yolanda nasceu nos arrabaldes do Algarve, a família por lá se fixou e foi nos lugares a sul que a dona dos apelidos Sequeira e Hopkins aprendeu a viver em cima de uma prancha, até considerar que as ondas algarvias não se divergiam tanto quanto ela queria.
Então mudou-se para Sines, a terra desbravada por um porto massivo que se acerca de ondas a quebrarem contra a areia, outras sobre rochas, algumas ao longo de pontões e ainda várias à boca do sítio onde um rio desagua e junta a sua areia à do oceano. A diversidade é outra e Yolanda cresceu com ela.
O seu surf assenta no poder, em carregar o peso das manobras nas extremidades ao longo da prancha para extrair leques de água onda fora em cada rasgo que desenhe nelas, foi com esta impressão digital que Yolanda acabou 2019 como campeã nacional. Nesse ano, ganhou também o Roxy Open em França, prova do circuito mundial de qualificação. Só tinha 19 anos.
Aos poucos, mas com muitas certezas, Yolanda Hopkins virou uma das mulheres que melhor surfa em Portugal.
E ela, "muito patriota" como admitiu ser à revista "Onfire", no mês passado, porque "Portugal está no [seu] coração e é o país que [gosta] de representar", descurou a ideia de poder representar a Inglaterra onde tem parte da nacionalidade no passaporte e foi para El Salvador representar este pedaço de terra.
Yolanda foi como Yolanda Sequeira, ostentando o apelido português e sendo uma de seis atletas - a par de Teresa Bonvalot, Carolina Mendes, Frederico Morais, Vasco Ribeiro e Miguel Blanco - convocados para surfarem nos ISA (International Surfing Association) Games pela seleção nacional. Nas ondas germinadas pelo Pacífico a irem contra o país da América Central há 12 vagas para os Jogos Olímpicos e Portugal ainda pode conquistar três (duas para mulheres, uma para os homens).
O terceiro dia de competição fez a Yolanda brilhar nas esquerdas mais massudas, mais pesadas e com maior tamanho de El Sunzal, uma de duas praias (a outra é La Bocana) onde a competição decorre. A portuguesa carregou o seu poderio de manobras no seu heat e, à segunda onda que apanhou, deixou no mar um 9.60, a melhor pontuação do evento.
Ganharia a bateria com uma pontuação de 15.17 e avançaria para a quarta ronda, bonificada por uma evidência para sorrir à confiança - terminou à frente da australiana Stephanie Gilmore, campeã mundial já por sete vezes. "Comecei a tentar não me focar muito na Steph, queria apenas fazer o meu surf. Fiz logo uma onda que nem era grande coisa, mas depois, na segunda, acertei uma manobra boa", disse a portuguesa, na reação partilhada pela Federação Portuguesa de Surf.

ISA
Depois, Yolanda esmiuçou um pouco o oceano, porque "já tinha visto heats anteriores" e sabia que os juízes "estavam a pontuar manobras mais agressivas", precisamente as que a portuguesa nutre no seu surf. "Pelo que, quando entrou mais uma [onda], grande e limpa, pensei que ia com tudo", contou, decidida nas palavras como o foi com os pés na prancha.
Essa seria a onda dos 9.60, da quase perfeição, em que acabou a atacar o lip com uma pancada que a fez descer com a fúria do lábio da onda enquanto "só pensava 'não caias, não cais e não cais'". Não caiu e o melhor resultado da competição, até então, ficou com Yolanda Sequeira.
Passou assim à quarta ronda da competição, em conjunto com Vasco Ribeiro e Teresa Bovalot, também dona de uma pequena proeza, ao ficar à frente de Sally Fitzgibbons e enviado a australiana e atual segunda classificada do circuito mundial da World Surf League para a repescagem.
É aí que também já estão Frederico Morais, Miguel Blanco e Carolina Mendes. Ainda é possível chegar às medalhas ou a posições finais que deem para carimbar vagas de qualificação para os Jogos Olímpicos de Tóquio, embora o trilho aquático seja mais adverso.