Medina foi eliminado, distorceu imagens, pôs os seus fãs contra Caio e Neymar também. Não lhe valeu de nada

Editor
Gabriel Medina remou para a esquerda, ei-lo de pé, a embalar balançando o corpo, rápido até se projetar onda fora, rodopiar com os pés colados à prancha e aterrar, de pé. Tudo acontece sete segundos.
Caio Ibelli tenta replicar o processo, mais ou menos ao mesmo tempo, para a direita, numa onda em sentido contrário, mas com outro vagar. Desenha ésses na água, roda o tronco e faz por acelerar, atira-se para um aéreo e falha, mergulha, não o aterra. São uns 10 segundos de tentativa frustrada.
Um e outro findam a sua onda e toca a remar para trás, a labuta habitual de voltar ao lugar ideal para apanhar ondas em Supertubos, não tão longe quanto isso da costa porque o mar está pequeno e manso. As águas seriam perturbadas, no domingo, pelo revoltoso Gabriel que, surfadas essas ondas, julgou ser o primeiro a alcançar o pico da prioridade que não tinha; sem olhar para os sinais na praia, obstruiu Caio e impediu-o de apanhar uma onda sem ser importunado, como definem as regras:
“O surfista com a prioridade tem o direito incondicional de apanhar qualquer onda que deseje. Os outros surfistas do heat podem remar, e apanhar, a mesma onda, desde que não afetem o potencial para pontuar do surfistas com prioridade. Um surfista perde a prioridade assim que apanhar a onda e/ou remar para a apanhar, mas falhar.
Se dois ou mais surfistas apanharem uma onda, o primeiro a chegar à zona de take-off terá a prioridade.”
Na última frase está o joio que Medina tentou, no próprio dia, separar do trigo, distorcendo-o com um vídeo editado no Instagram com as duas ondas, as remadas e os supostos segundos, contados por um narrador, que cada um demorou. A ideia não assumida, embora óbvia, era ficar com o bom da razão.
O mau da fita, com a magia negra das redes sociais, ficou no surfista pacato, nem de perto tão mediático, que se limitou a seguir as regras. “Recebi mais de 10 mil mensagens em 12 horas. A maioria das pessoas insultou-me, ameaçou-me e colocaram em causa a minha dignidade, como se tivesse feito algo de errado”, lamentou, à revista “Stab”, criticando o enredo de vitimização do conterrâneo.
Disse que “o Gabriel se posicionou muito mal” nas redes, a terra fértil em desinformação, onde a mira dos trolls e dos ataques ácidos, escondidos atrás do telemóvel, só porque sim, cresceram assim que Neymar, fiel amigo de Medina, clicou no botão de publicar de uma mensagem de apoio no Instagram. “Colocou os seus milhões de seguidores e os de Neymar contra mim. Não acho que isso tenha sido cool”.
Caio Ibelli, ainda mudo em tudo quanto é sítio de ódio cozinhado a lume alto, ainda criticou “a forma muito parcial como a equipa do Gabriel editou a sua versão” do vídeo, tornando-o “sólido a seu favor”. As imagens partilhadas por Medina terão sido as que apareceram no resumo do heat, feito pela WSL, no próprio dia, e não as captadas de vários ângulos e em tempo real que a organização usou para, na madrugada desta terça-feira, explicar os porquês de não reverter qualquer decisão - depois de Renato Hickel, comissário da entidade, o ter feito na segunda-feira.
“Não haverá repetição. O Caio foi o primeiro a chegar ao pico, mais a sul na praia, e foi-lhe atribuída a prioridade com direito. Podemos ouvir, claramente, o speaker da praia a anunciar que a prioridade está com o surfista de azul.”
Em dia e meio, o silêncio da WSL deixou que decibéis fossem berrados, deu tempo ao ruído ensurdecedor de quem torce e assiste de fora, condenado pelo próprio Kelly Slater, o semideus do surf. voz que cala as restantes quando fala, que vê “no facto de as pessoas estarem a cair em cima do Caio” uma mostra de “não saberem sobre o que estão a falar”. Gabriel Medina “deveria ter olhado para o painel” da praia, avaliou Slater, eliminado por Kanoa Igarashi, nos quartos de final.
Quando o brasileiro regressou à praia, após o heat, foi filmado a entrar na sala dos juízes da prova, violação das regras caso o tivesse feito sem autorização. Valer-lhe-ia uma multa, pelo menos, de dois mil dólares, se não tivesse entrado na cabine dos juízes “apenas ao final do dia”. Gabriel Medina foi convidado por Renato Hickel a fazê-lo, após o último heat do dia, confirmou fonte oficial da WSL à Tribuna Expresso, realçando que o brasileiro foi “muito educado durante o tempo todo”.
O brasileiro protestou, não lhe deram razão, o barulho azucrinou o juízo a Caio Ibelli e todo o ruído não lhe consertou o 9.º lugar no MEO Rip Curl Pro, onde chegar à final e uma conjugação da queda de outros surfistas (Felipe Toledo, Jordy Smith, Kolohe Andino e Ítalo Ferreira), mais cedo lhe poderiam revalidar já o título mundial.
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