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Ronaldo vai mesmo jogar para o Al-Nassr? Se sim, o plano da Arábia Saudita poderá ser usá-lo como Messi

De Espanha chegam notícias que, de novo, dão como certa a ida de Cristiano para a Arábia Saudita, onde o espera um contrato a rondar os €200 milhões por época que o fará jogar até aos 40 anos. Depois, assumiria a eventual função de embaixador da alegada candidatura do país a receber o Mundial de 2030, juntando-se ao argentino que já tem uma parceria com o reino saudita para promover o turismo

Diogo Pombo

Laurence Griffiths

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“Não, não é verdade.”

Extemporânea e dita de raspão à passagem pela zona mista de um estádio Lusail, no Catar, após a alegre goleada (6-1) de Portugal à Suíça que teve um travo algo amargo para o capitão da seleção, causada pela raríssima condição de suplente na qual permaneceu até aos 72 minutos, a frase foi a única reação pública do jogador face ao rumor que então voltou a rondar o seu nome: o Al-Nassr, clube da Arábia Saudita, ter-lhe-ia apresentado uma nova proposta.

Ao surgimento da neblina dos rumores em pleno Campeonato do Mundo não ajudou que Cristiano ficasse desempregado já em Doha, a treinar com a seleção no meio do calor. A 22 de novembro, dois dias antes da estreia de Portugal no torneio, anunciou-se a rescisão formal de Ronaldo com o Manchester United e o retorno da choruda alegação - a suposta proposta do Al-Nassr rondaria os 200 milhões de euros por época - poderia ser mais uma distração desnecessária para no “grande Mundial” que o jogador antecipara para ele próprio.

Essa previsão surgiu na entrevista dada a Piers Morgan, emitida ainda antes da viagem para o Catar, na qual Ronaldo revelou que rejeitou uma proposta de um clube da Arábia Saudita no mercado de verão e classificou de “mentiras” o que então foi noticiado pela comunicação social inglesa: que havia muito poucos pretendentes para darem seguimento à vontade do português em prosseguir carreira na Europa, preferencialmente para lutar pela conquista da Liga dos Campeões.

A mentira dada pelo português como reincidente, contudo, voltou para contra-atacar.

Nos últimos dois dias, tanto o “As” como a “Marca”, principais jornais desportivos espanhóis que já tinham entrado em ebulição com o facto de Cristiano Ronaldo treinar em Valdebebas, centro de estágio do Real Madrid, para manter a forma no regresso do Mundial, noticiaram que o Al-Nassr presenteou o português com nova proposta para o convencer a rumar ao Médio Oriente. Uma publicação diz que o salário não chegará aos €200 milhões por temporada, outra que o valor “aproximado” continua a ser esse, mas ambas confluem num ponto - o negócio estará prestes a ser fechado.

A intenção do Al-Nassr será fechar o acordo com o português antes de 1 de janeiro, data de abertura do mercado de transferências de inverno, com duração de dois anos e meio. Portanto, a ligação a Ronaldo duraria até o português celebrar quatro décadas de existência, mesma idade com que pretendia jogar no Campeonato da Europa de 2024 segundo o que disse em setembro, bem antes do seu descontentamento notório com a suplência neste Mundial, a polémica com Fernando Santos e do silêncio público que mantém desde a saída da seleção do treinador que classificou “um dos melhores do mundo” na tal entrevista com que agitou as águas antes de viajar para o Catar.

Mais um embaixador da Arábia Saudita?

Dentro do pacote do acordo com o Al-Nassr que contará com o patrocínio do reino da Arábia Saudita - pela magnitude dos valores envolvidos e do impacto mediático da contratação, por Ronaldo ser quem é - estará previsto, escrever a “Marca”, que Cristiano venha a assumir o cargo de embaixador da candidatura do país à organização do Mundial de 2030, algo já publicamente assumido por representantes sauditas como uma hipótese, embora não como uma certeza.

Mas, ainda que refém de confirmação oficial, a possibilidade de o país fazer o torneio retornar ao Médio Oriente após a estreia no Catar coincide com a ‘agressiva’ postura da nação em ser falada devido ao desporto, cortejando grandes eventos ou investidas em modalidades populares para colocar a Arábia Saudita no mapa mediático: à compra do Newcastle, clube da Premier League, pelo fundo soberano do país, e ao financiamento do LIV, circuito mundial alternativo de golfe, o território acolherá no próximo ano uma corrida de Fórmula 1 pela terceira vez e até planeia candidatar-se a receber uma edição dos Jogos Olímpicos de Inverno.

Em 2023 e de luvas postas, Tyson Fury e Oleksandr Usyk vão colidir num combate de boxe de pesos-pesados (que atrai milhões de espetadores, movimento milhões em apostas e outros tantos em patrocinadores) em Riade, em 2034 lá serão os Jogos Asiáticos e, há semanas, o reino anunciou que se candidatará também a ser anfitrião da Taça Asiática de futebol feminino, modalidade que só há três anos é legal no país. Longe de ser exclusiva à Arábia Saudita, há quem chame a esta tendência de sportswashing: quando regimes autocráticos ou regidos por democracias mais ‘musculadas’ recorrem a populares eventos, ou figuras desportivas para remexerem com os focos mediáticos. O regime saudita é acusado formalmente pelos EUA de ter assassinado o jornalista Jamal Khashoggi, em 2018.

Soccrates Images

A ser verdade a candidatura do país a ser anfitrião do Mundial daqui por oito anos e a ideia de colar tudo o que Cristiano Ronaldo representa a essa intenção, o português aproximar-se-á, no desígnio, de quem com ele puxou os limites das estatísticas futebolísticas durante uma geração.

Porque, em maio, Lionel Messi estava a sair de um avião do Riade, aterrado na Arábia Saudita para formalizar a parceria com o reino que o tem promovido como um embaixador do turismo no país. “Esta não é a sua primeira visita ao país e não será a última”, escreveu, na altura, Ahmed al-Khateeb, o ministro do Desporto saudita, no dia da chegada do argentino. Os valores do contrato não foram divulgados, tal como a assessoria do reino e representantes de Messi se têm poupado a responder a questões feitas sobre o assunto.

Nada se sabe, como tal, se a por certo milionária ligação do capitão da seleção da Argentina à Arábia Saudita se estenderá à eventual candidatura da nação ao Mundial de 2030, cujo anfitrião (ou anfitriões, como será mais provável, face ao alargamento do torneio a 48 seleções) só será escolhido em 2024, no congresso anual da FIFA. Entre as propostas já criadas e formalizadas para acolher a centenária edição do torneio é a conjuntamente defendida por Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile. A possibilidade de um conflito de interesses é evidente.

Se o Cristiano Ronaldo rumar ao Al-Nassr e, de facto, a ideia for aproveitá-lo como embaixador dessa alegada ideia de o país se fazer à organização do Campeonato do Mundo, o português talvez fique mais perto da intenção que o próprio deixou no ar há pouco mais de um mês, na sua entrevista pré-Mundial: “Não somos amigos de estar em casa um do outro ou telefonar, mas é como um colega de equipa, respeito-o muito. Nunca jantámos, mas porque não? Adoro partilhar coisas, ideias, histórias. Vamos fazê-lo, de certeza. Pelé e Maradona fizeram-no”.