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Ronaldo considera-se “fruto apetecível que as pessoas querem morder”, acusa imprensa de ser “lixo” e diz que críticas surgem por “inveja”

Na primeira parte da entrevista com Piers Morgan, Cristiano disse que esteve “próximo” de ir para o City , mas “o coração falou mais alto” e decidiu voltar ao United, que o “surpreendeu” pela “negativa”. Ronaldo queixou-se da “mentalidade” dos jovens do presente e falou sobre as críticas que recebe da imprensa ou de ex-companheiros, bem como da morte de um dos filhos gémeos que esperava com a companheira, o “pior momento” da sua vida

Pedro Barata

Matthew Ashton - AMA/Getty

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Quando os primeiros pedaços da entrevista de Cristiano Ronaldo a Piers Morgan começaram a ser publicados, no domingo à noite, rapidamente as citações do português, particularmente sobre o Manchester United, se tornaram no assunto do momento no futebol internacional. Em vésperas do Mundial, os olhos da atenção mediática parecem divididos entre Doha e as repercussões das palavras do avançado.

Há vários dias que bocados da entrevista vão sendo lançados, mas só agora a primeira parte foi para o ar, sendo a segunda emitida quinta-feira. Numa conversa sem contraditório, em que Piers Morgan ia concordando com o português ou abrindo caminho a novos argumentos para que o convidado explorasse, Cristiano falou sobre o regresso ao Manchester United, a morte de um dos gémeos que esperava, em conjunto com a companheira, ou das críticas que recebe.

“Dou esta entrevista porque acho que é a altura de dizer algo. E porque gosto de ti. É simples”, foram estas as primeiras palavras de Ronaldo, que foi interrompido pelo entrevistador, que também garantiu “gostar” do jogador do Manchester United, “o maior jogador que já jogou futebol”, disse Piers Morgan no começo do programa.

Sobre o verão de 2021, em que trocou a Juventus para regressar a Old Trafford, o capitão da seleção nacional garante que esteve “muito próximo” de ir para o Manchester City, mas que “o coração falou mais alto”. Alex Ferguson disse a Ronaldo que “era impossível” que o avançado, que havia atuado no United entre 2003 e 2009, fosse para o lado azul de Manchester, numa conversa decisiva para o regresso do número 7.

Ao voltar ao norte de Inglaterra, no final de agosto do ano passado o madeirense foi “surpreendido” pela “negativa”. Argumenta Cristiano Ronaldo que houve “zero progresso” durante os 12 anos em que esteve longe do clube, como se o United tivesse “parado no tempo”. Para o atacante, as infra-estruturas ou a tecnologia existentes “não são de topo”, ficando aquém do que estava habituado no Real Madrid, onde esteve entre 2009 e 2018, e na Juventus, clube que defendeu entre 2018 e 2021.

Na sua temporada de volta aos red devils, Ronaldo fez 24 golos em 38 jogos, mas entende que houve uma “decisão ridícula” durante a campanha. Para o português, contratar Ralf Rangnick para o comando técnico depois da saída de Ole Gunnar Solskjaer foi um erro, já que o alemão “nem é um treinador”. “Nunca tinha ouvido falar dele. Das pessoas com quem falo, nunca ninguém tinha ouvido falar dele”.

Ralf Rangnick fora, antes de assinar pelo United, técnico de Estugarda, Schalke 04, Hoffenheim ou RB Leipzig. Venceu a Taça, a Supertaça e a Taça da Liga da Alemanha e foi — como técnico ou dirigente — um dos principais nomes da revolução do futebol do seu país, levada a cabo durante este século. Atualmente é selecionador da Áustria.

“Os novos treinadores que chegam acham que encontraram a última Coca-Cola do deserto, o que não entendo, já que o futebol existe há muito tempo”, diz Ronaldo, que lembrou que sempre esteve “com os melhores do mundo”, citando nessa categoria “Zidane, Ancelotti, Mourinho, Fernando Santos e Allegri”.

O avançado também guardou críticas para a nova geração de jogadores. Segundo Cristiano, os jovens “vivem numa era diferente”, não tendo “a mesma mentalidade” nem “fome”, porque tudo é “mais fácil” e “não sofrem tanto”. Quando Piers Morgan diz ao entrevistado que “se fosse jovem jogador, estaria sempre a observá-lo”, Ronaldo responde que “eles não se preocupam”, logo “não vão ter uma grande longevidade”. “Neste geração, contarás pelas mãos quantos chegarão a este nível". Como exceção, o madeirense apontou Diogo Dalot, porque é ”inteligente".

Em relação às críticas que recebe, “mesmo da imprensa portuguesa”, realçou, Ronaldo acredita que “a inveja” é fator fundamental para que estas surjam. “Uma coisa boa é que não gosto de ler”, argumenta, já que, “em 90% das vezes”, a imprensa “mente” e é “lixo”. “Não dizem a verdade e mentem constantemente. Há sempre coisas negativas para com a minha família. Ler para quê? É duro”.

Apontando também o dedo a antigos companheiros que, no seu entender, se “aproveitem” da sua fama para terem “notoriedade”, como Wayne Rooney ou Gary Nevile, Cristiano Ronaldo apresentou uma teoria para gerar tanto interesse, respondendo à pergunta de Piers Morgan sobre a razão para ser a pessoa mais seguida no Instagram: “Sou carismático. Ser bonito ajuda também. Sou como um fruto apetecível que as pessoas querem morder”.

Em abril, Cristiano Ronaldo perdeu um dos filhos gémeos que esperava com a companheira. O português classificou esse momento como “o pior” da sua vida, não sabendo “como reagir nem o que dizer” e passando a “ver a vida de outra perspetiva”.

O jogador do Manchester United contou ter recebido uma mensagem de condolências da família real britânica e agradeceu pelo apoio, até de adeptos rivais. E acrescentou: “as cinzas dele estão comigo, tal como as do meu pai [falecido em 2005]. Há uma pequena capela cá em casa onde estão o meu pai e o meu filho. Falo com eles e ajudam-me a ser um homem melhor, uma pessoa melhor, um pai melhor”.

A segunda parte da conversa de Cristiano Ronaldo com Piers Morgan vai para o ar na quinta-feira. Segundo o que o apresentador tem revelado, o jogador falará sobre a ausência na pré-época do United, as “traições” que considera terem existido por parte do clube ou o Mundial do Catar.