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Da Maia a Manchester: O fabuloso destino de Bruno Fernandes, visto pelos ingleses

Da Maia a Manchester: O fabuloso destino de Bruno Fernandes, visto pelos ingleses
MÁRIO CRUZ

O “Daily Mail” escreveu sobre a forma como o internacional português cresceu, desde o Infesta até ao Manchester United, e falou com vários dos seus primeiros treinadores

Tribuna Expresso

Bruno Fernandes tinha oito anos quando se juntou aos azuis e brancos de S. Mamede Infesta. O primeiro técnico de Bruno Fernandes chamava-se Sérgio Marques. Desconhecido em Portugal, agora mais conhecido em Inglaterra. O impacto do jogador português é tal que o jornal “Daily Mail” quis conhecer o homem que viu um dom em Fernandes que o convenceu a dar-lhe treino individual às terças à noite, puxando pelas suas capacidades no piso de terra.

“Desde o início podíamos ver que ele era um talento natural, mas ele sempre quis a bola só para si”, disse o técnico, agora com 65 anos, que punha Fernandes como defesa central nos jogos mais difíceis e depois permitia que ele dominasse o meio campo quando os oponentes não eram tão fortes.

“Ele não gostava muito de passar a bola, cabecear ou defender. Chamei-o à parte e disse-lhe: ‘Bruno, tu tens o talento mas precisas de trabalhar essas áreas. Queres fazer isso?’ Ele disse que sim e foi assim que começámos as sessões de treino individual.”

O “Daily Mail” refere que “Fernandes vem de um ambiente pobre na cidade industrial da Maia” e que vivia com os pais e os irmãos “num modesto primeiro andar em Gueifães, nos arredores da cidade”. Porque os pais não conduziam, era o secretário técnico do Infesta que o levava e trazia aos treinos.

Dois anos mais tarde, quando as equipas maiores começaram a mostrar interesse, Bruno preferiria juntar-se ao clube de infância, o FC Porto, mas foi o Boavista que o convenceu, em grande parte porque oferecia transporte de e para os treinos.

Apesar de tímido fora do campo, Bruno Fernandes ia-se tornando cada vez mais agressivo dentro dele. Quando se mudou para o ADR Pasteleira, clube filial do Boavista, foi António Peres quem assumiu o papel de treinador encarregue de domar a fera. “Ele era como um cavalo selvagem,” diz Peres ao jornal inglês. “Tinha cabelo longo como uma rapariga e era um rebelde.” “Ele disse-me muitas vezes que queria ser um jogador de topo e ter uma vida melhor porque a família era pobre. Todos querem isso, mas apenas alguns conseguem,” acrescenta o técnico.

Fernandes tinha fama de mau perdedor mas era também um líder desde muito cedo. Peres ri-se, lembrando que o agora jogador do Manchester United era o culpado de trazer mais bolas do que levava para os jogos fora. Ou das vezes que apanhava os rapazes a ver filmes em vez de dormir na noite anterior a um torneio.

A fatia garantida pelo Pasteleira com a transferência de Fernandes para o United será de aproximadamente 204.000 euros, significativamente mais do que conseguiram com os sucessos de dois outros jogadores: André Gomes, ex-Benfica e atualmente no Everton; Chiquinho, jogador do Benfica.

“Bruno tinha dificuldades mas nunca desistiu,” assegura o coordenador da academia do Pasteleira, Miguel Pedro. “Ele vai ser uma grande ajuda para o Solskjaer e para os jogadores do Manchester United. Vi o primeiro jogo dele (contra o Wolves de Nuno Espírito Santo) e ele parecia um patrão em campo.”

O “Daily Mail” foi à antiga escola de Bruno Fernandes, em Gueifães, e falou com a antiga professora de inglês do craque, Cristina Almeida, que ainda recorda um rapaz cujo sonho era ser jogador de futebol e um dia atuar na Premier League. “Ele era especial,” afirma. “Ainda consigo vê-lo a correr para as aulas, a bola debaixo do braço, a transpirar e ofegante, a obrigar-me a lavar-lhe a cara antes de o mandar para o lugar dele.”

Aos 15 anos, Fernandes mudou-se para outra escola, mais perto do estádio do Bessa, e foi aí que conheceu a futura mulher, Ana Pinho. O seu irmão, Miguel, tornou-se empresário do jogador e foi com a sua recomendação que o Novara, de Itália, decidiu observá-lo.

“À primeira vista, não me impressionou,” lembra Mauro Borghetti, então responsável pela academia do Novara. “Não estava acima da média e mesmo o movimento do seu corpo mostrava pouco porte atlético mas, durante o jogo, apercebi-me de que a sua forma de jogar era cheia de personalidade. Ele não tinha medo de driblar ou rematar.”

O Novara concordou pagar ao Boavista 40.000 euros em duas prestações. Aos 17 anos, Bruno Fernandes preparava-se para sair de casa e rumar ao futebol italiano. “Chegar a Novara e não conhecer ninguém, não falar a língua, não ter ninguém para traduzir, foi muito difícil,” admite o jogador português.

A questão da língua, pelo menos, foi rapidamente ultrapassada. O diretor desportivo do clube, na altura, conta que Fernandes aprendeu italiano colando palavras em todos os cantos da casa. “Na cadeira, no frigorífico, no guarda-fatos, em todo o lado. (…) Um mês depois, já sabia falar italiano e isso impressionou-me.”

As boas exibições fizeram com se mudasse para a Udinese, com um aumento salarial e um carro – um Smart – no negócio. As novas condições também permitiram que a mulher se mudasse para Itália, onde, refere o jornal inglês, já lhe podia preparar o seu prato preferido: a francesinha.

Antes de ingressar no Sporting, Bruno Fernandes ainda passou uma temporada na Sampdoria. Depois disso, a história é mais ou menos conhecida: tornou-se capitão, foi o médio com mais golos marcados na Europa, viveu dias difíceis graças à invasão da academia do Sporting, e transferiu-se para um gigante adormecido, o Manchester United, que conta com a sua força para acordar novamente.

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