Opinião

Um elogio a Pedro Proença, por quem o conhece há mais de trinta anos

Um elogio a Pedro Proença, por quem o conhece há mais de trinta anos

Duarte Gomes

ex-árbitro de futebol

O antigo árbitro internacional Duarte Gomes lembra o profissionalismo e perfecionismo de Pedro Proença, presidente da Liga Portugal, que na última semana foi confirmado como líder da Associação de Ligas Europeias

Depois de várias indicações dadas nesse sentido, Pedro Proença foi formalmente nomeado Presidente da Associação de Ligas Europeias, órgão que inclui mais de quarenta ligas profissionais do Velho Continente.

A indicação para o cargo do atual Presidente da Liga Portugal constitui um marco assinalável a vários níveis, o principal dos quais será a forma como um ex-árbitro de futebol conseguiu construir carreira meritória numa atividade diferente da que desempenhou funções desportivas.
Isso só prova que quem seguiu o caminho da arbitragem pode também ter condições para enveredar por outras vias no futebol, se for competente e capaz.
Estar lá dentro, viver o jogo, sentir as suas incidências, conhecê-lo de cima para baixo, é uma licenciatura ao ar livre. Dá traquejo e experiência prática, algo fundamental para perceber a indústria e todos os seus atores.
Regressando a Pedro Proença, só estranhará a sua ascenção quem não conhecer a sua forma de trabalhar.
O Pedro, que é meu amigo há mais de trinta anos, não me mandatou para escrever sobre si ou a sua carreira no desporto, mas no momento em que atinge este patamar e passa a integrar o Comité Executivo da UEFA, merece que se conheça a forma como se compromete com o trabalho. É um profissional dos pés à cabeça.
Enquanto árbitro, não era diferente: os treinos diários eram intocáveis e a entrega que entregava à função diferente da dos restantes companheiros de classe. Era obstinado, metódico e perfecionista. Com ele, nada (nem ninguém) podia falhar.
Tudo era pensado e preparado ao detalhe, desde a indumentária à forma de estudar as equipas, até ao aquecimento que efetuava em campo com a sua equipa. Para terem uma ideia, esse era de tal forma planeado que o próprio Comité de Arbitragem da UEFA o referenciou como modelo a seguir para todos os árbitros internacionais.
Pessoas assim, que respiram, sonham e pensam trabalho, tendem a não cair nas boas graças de todos. Esse é o dano colateral de uma forma empenhada de mergulham nas suas metas. Mas a verdade é que, com mais ou menos obstáculos, com maior ou menor dificuldade, o Pedro conseguiu sempre apresentar resultados de excelência.
Na arbitragem, foi apenas o número um do mundo (em 2012)! Foi considerado o árbitro do ano um sem número de vezes, ganhou vários prémios de imprensa, teve presente em dezenas de jogos internacionais, europeus e mundiais. Dirigiu uma final da Champions League e outra do Campeonato da Europa (ambos em 2012).
Depois de terminar a carreira, aceitou o repto de pegar numa Liga desacreditada e com enormes dificuldades financeiras, transformando todo o seu modelo de gestão e tornando-a economicamente viável.
Um dos seus maiores segredos será a liderança pelo exemplo: Proença é sempre o primeiro a chegar e o último a sair, num calendário de trabalho que funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano.
Quem trabalha com ele, sabe que não há aqui nenhum exagero.
Há quem goste e admire o estilo, há quem odeie e repudie a personalidade. Nem Deus agradou a todos. Mas, até hoje, os que não aplaudem o registo têm-se conformado com as evidências de um sucesso profissional inatacável, que a designação da passada semana apenas reforçou.
Que eleve bem alto o nome do futebol profissional português e faça o seu trabalho da forma que todos esperam. Lá fora é cá dentro.

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