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Duarte Gomes

Duarte Gomes

ex-árbitro de futebol

Depois do golo de Grimaldo no jogo com o Portimonense fica a questão: vale a pena investir na implementação da tecnologia de linha de golo?

Apostar em meios capazes de ajudar os árbitros a tomarem uma decisão que, em campo (e tantas vezes em sala), é quase impossível de avaliar, custa muito dinheiro. Tal como um campeonato perdido, uma despromoção injusta ou um título mentiroso. O antigo árbitro internacional Duarte Gomes lembra que cabe ao futebol português saber que relação estabelece entre custo e benefício

Duarte Gomes

CARLOS COSTA/Lusa

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O lance do golo de Grimaldo no jogo com o Portimonense trouxe novamente à discussão a questão de se saber se compensa investir em meios capazes de ajudar os árbitros a tomarem uma decisão que, em campo (e tantas vezes em sala), é quase impossível de avaliar.

A implementação da tecnologia de linha de golo tem custos elevados, mas todos sabemos que o preço das coisas é relativo face ao benefício que oferecem. A pergunta que se impõe é muito simples:
- A que preço está a verdade desportiva por estes dias?
Na minha visão - reconheço que parcial, porque fora dos centros de decisão e das dinâmicas que pesam prós e contras -, todo e qualquer investimento que melhore objetivamente a qualidade da decisão, vale a pena. Porquê? Porque o que acontece dentro das quatro linhas já não é apenas desporto nem entretenimento. É uma realidade com impacto tremendo na vida, carreira e carteira de milhões de pessoas e instituições.
A verdade é que muitas outras ligas (além de UEFA e FIFA) partilham o mesmo sentimento, visto que recorrem a este tipo de avanços desde 2012.
Quanto a nós, é importante que se saiba que o investimento a realizar depende de variáveis distintas.
Por exemplo, há tecnologias que utilizam um sistema baseado em câmaras televisivas (no mínimo sete, de alta precisão, colocadas no interior das balizas e que enviam imagens para um software que deteta se uma bola ultrapassou ou não, por completo, a linha de golo). A "Goal Minder", a "Hawk-Eye" e a "Goal Control" recorrem a essa técnica e estão credenciadas pelo International Board.
Mas também há empresas que baseiam a sua análise em campos eletromagnéticos, assentes em sensores colocados cirurgicamente no interior das bolas e que criam um sinal para uma Central GPS (que depois fornece informação correta à organização e/ou ao árbitro). A "Cairos GLY System" (em parceria com a Adidas) e a "GoalRef" utilizam essa técnica.
Quanto a custos e embora não exista divulgação oficial de preços, há informações que parecem confirmar que a tecnologia que recorre ao uso de câmaras é mais onerosa, por depender de um conjunto de variáveis que afetam os valores de implementação e manutenção.
Há não muito tempo os preços pedidos pela "Goal Control" rondavam os 4.7 milhões de euros na primeira época, sendo que nas seguintes o valor descia para cerca de 1.2 milhões.
Já a "Hawk Eye" exigia um investimento inicial muito superior, de 11 milhões de euros, sendo que a partir daí passava para os 2.3 milhões anuais.
É muito dinheiro? É. Tal como é um campeonato perdido, uma despromoção injusta ou um título mentiroso.
Cabe ao futebol português saber que relação estabelece entre custo e benefício. Para mim, a escolha não oferece dúvidas. Quem quer nadar com tubarões, não pode pensar como sardinha.