Momento alto da semana: as nomeações dos árbitros. Como diria George Clooney: " What else is new?".
As coisas estão de tal forma que, de cada vez que são divulgados os nomes de quem vai arbitrar os jogos da jornada, o engagement online atinge números surreais. É uma das pérolas noticiosas mais proveitosas, que a imprensa desportiva conhece e explora melhor do que ninguém.
Se pensarmos nisto com alguma frieza, se olharmos para este padrão com a devida distância, rapidamente perceberemos o retrato maior: a maioria das pessoas está cansada. Está cansada de lutar e de encontrar dificuldades.
Estes são tempos muito desafiantes, que exigem dor e sacrifício a muitos. O povo sente-se injustiçado, estrangulado em várias frentes, sem força nem vontade para enfrentar variáveis que fogem ao seu controlo.
O futebol - com a arbitragem à cabeça - acaba por ser o escape ideal, o álibi perfeito para carpir mágoas e libertar toda essa frustração e impotência. O futebol permite esvaziar o balão, sem que em boa verdade advenham daí grandes consequências. Sem que o mundo se importe muito com o que é dito, escrito e falado.
E as pessoas já se conformaram. Já aceitaram que este é um universo paralelo onde raramente se pune quem se excede, quem passa dos limites, quem vai longe demais.
A regra parece ser “tudo o que cai no virtual, fica no virtual” e é talvez por isso que o Ricardo Esgaio, em tempos, e o Tiago Araújo, mais recentemente (entre outros pelo meio), viram-se obrigados a mudar as suas rotinas e a privar as suas liberdades, para escaparem à fúria dos insultos com que foram bombardeados online.
Nestas coisas, é o bom que foge para evitar que o mau continue a bater. Não há como não amar, pois não?
É neste contexto de “perversidade emocional” que surge a tal cereja no topo do bolo: as nomeações da semana. Algo que, diga-se de passagem, acontece todas as jornadas, de todas as épocas, há anos a fio, mas que por esta altura gera mais azáfama e burburinho.
É que as contas do campeonato estão longe de estar fechadas e os nomes do António, Carlos ou José são o mote ideal para o choradinho habitual, para a bicada do costume. São autênticas armas de arremesso.
Aos olhos dos adeptos (mas não só), os árbitros que dirigem jogos dos seus clubes estão todos feitos. São encomendas que só lá vão para prejudicar a equipa e facilitar a vida aos rivais.
Onde uns veem prejuízo continuado, outros veem benefício reiterado. Não há uma única jornada em que um nome, um só nome, não seja beliscado, ofendido e ameaçado, mesmo antes de começar a trabalhar. Mesmo antes de lá pôr os pés.
E está tudo bem, no pasa nada. Afinal de contas, é só futebol e ninguém leva a mal.
Aos olhos do povo, os árbitros são os maiores responsáveis por tudo o que de mau acontece no futebol e, em particular, às suas equipas. São eles o causador das derrotas e os dinamizadores das vitórias dos outros.
Em matéria de cultura desportiva e de saber estar no jogo, sempre fomos poucochinho, é verdade, mas quando a vida não ajuda, quando o sufoco aumenta e quando nem o clube dá uma mãozinha, aí rebentamos pela costura e baixamos ao nível chinelo.
Não é por maldade, nem é de propósito, é apenas demasiado para encaixar e sofrer sem ter que extravasar.
Afinal de contas, para isso é que existem árbitros, certo?
What else is new?