Vitória de Setúbal 0-0 Sporting. Calma, nós vamos ganhar isto nos penáltis. Defendi três e ganhámos a Taça (por Eduardo)
A primeira edição da Taça da Liga, em 2008, que o Vitória de Setúbal ganhou ao Sporting, por 3-2, nos penáltis, marcou o percurso do guarda-redes Eduardo que, a partir daí, ganhou outras asas. A rubrica "O Meu Jogo" convida o cronista, jornalista, ex-jogador, seja o que for, a relembrar-se dos eventos desportivos que mais o marcaram, como adepto ou interveniente
14.04.2020 às 15h44

FRANCISCO LEONG
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Há tantos jogos que me marcaram, por várias razões, que é muito difícil escolher. Há o primeiro jogo pela equipa principal, há o primeiro jogo pela seleção, há o do primeiro título, - acho que todos os jogos nos marcam de diferentes maneiras quando temos prazer em jogar.
Mas vou realçar o da final da Taça da Liga, pelo Vitória de Setúbal. Foi o primeiro título que conquistei. Foi na primeira edição da Taça da Liga, contra o Sporting. Fizemos uma época fantástica esse ano, que culminou com esse título, em 2008.
Havia um espírito fabuloso na equipa e lembro-me que quando partimos de Setúbal, no autocarro em direção ao Estádio do Algarve, a zona à volta do estádio estava cheia de pessoas a apoiar-nos. Tínhamos uma enorme confiança nesse jogo, era uma competição importante para o clube.
O treinador era o Carlos Carvalhal. Lembro-me que ele falou pouco, mas referiu que íamos ter um dia que podia marcar as nossas vidas e as nossas carreiras, que era algo que podíamos deixar para sermos todos recordados no futuro, até por ser a primeira edição e por estarmos a representar um clube de menor dimensão. Por isso, podíamos ficar na história. Foi essa a mensagem que nos quis passar porque o resto, toda a motivação, já lá estava. Disse-nos também para, acima de tudo, desfrutarmos do jogo e não perdermos a oportunidade que estávamos a ter naquele momento, porque tínhamos conquistado o direito de lá estar.
O treinador de guarda-redes, Carlos Ribeiro, mostrou-me algumas coisas no caso de irmos a penáltis, mas disse-me que acima de tudo confiava no meu instinto.
Quando chegámos ao Algarve, fizemos um treino de adaptação e acho que todos estávamos a viver um sonho naquela altura. Havia uma certa ansiedade e um pouco de nervosismo, como era natural, notava-se na cara de cada um e até nas próprias brincadeiras.
Mas havia uma grande confiança, que se transferiu para o jogo. Fizemos todos um excelente jogo, terminámos a zero nos 90 minutos e fomos para penáltis. Na altura não havia prolongamento, ia-se direto para as grandes penalidades.

FRANCISCO LEONG
Aí lembro-me de quase tudo. Sobretudo do meu treinador, o Conhé, que estava bastante nervoso quando vamos para as grandes penalidades e queria transmitir-me o máximo possível de informações. Recordo-me de olhar para a cara dele e de dizer: “Calma, nós vamos ganhar isto”. Agora rio-me, acho que ele estava mais nervoso do que eu. Lembro-me de ele querer dizer-me: “Este jogador bate para aqui, aquele bate para ali”. Ele estava bastante nervoso a falar para mim e eu só lhe disse: “Tenha calma, nós vamos ganhar isto”. E ele olhou para mim e só disse “pronto, tu é que sabes”.
Nas grandes penalidades, eu defendi três e, na última, que deu a vitória, eu ainda não tinha bem a noção de que aquele penálti nos dava a Taça, porque havia um certo nervosismo e ansiedade. Lembro-me de ter defendido, levantei-me, depois olhei para os meus colegas e vi-os a correr em direção a mim e aí é que caí em mim e pensei: “Já acabou”.
Depois até corri para a bancada e caí, porque escorreguei na plataforma de ferro e esbarrei-me contra aquilo tudo. A seguir foram momentos de grande alegria, inesquecíveis.
É um jogo que me marca também porque estava no início da minha carreira e foi, sem dúvida, uma afirmação, que catapultou aí a minha carreira. Eu tinha vindo do Beira-Mar, tinha feito uns bons seis meses no Beira-Mar, estava numa fase afirmação. Comecei a jogar já bastante tarde na Liga, com 25, 26 anos, e esse jogo marcou aquilo que viria a ser a confiança que as pessoas depois depositaram em mim, naquilo que era capaz de fazer. Marca bastante o início do meu percurso na Liga e, depois, na seleção nacional.
(Depoimento recolhido por Alexandra Simões de Abreu)
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