Uma pessoa puxa pela cabeça, mas muitas das vezes - mesmo muitas, acreditem - alguém puxou pela cabeça muito melhor do que nós. E por não me ocorrer uma melhor formulação, uma ideia mais clara e límpida sobre o caos, recorro ao Bruno Vieira Amaral, que não podia ser mais certeiro. O Bruno, aqui mesmo para a Tribuna, escreveu sobre a tarefa impossível do próximo treinador do Benfica, que até poderá “ser estrangeiro, feio, budista, maçon ou a reencarnação de Béla Guttmann”, mas que será sempre alguém “a prazo”.
Isto porque não há milagres, ou melhor, os milagres dão o seu trabalho, precisam de um terreno não minado e o Benfica está, neste momento, esgotado, “um esgotamento de ideias, de um modelo, de um presidente”. E quando assim é, nada brota, nada pega, todas as decisões, até as não-decisões, parecem más decisões.
Rui Costa despediu Schmidt e foi uma terrível decisão. Mas nada diz aos adeptos encarnados que continuar com Schmidt não fosse também ela uma decisão equivocada. Porque o equívoco original já não está cá, está lá atrás no tempo quando, imbuído do inicial entusiasmo, querendo mostrar serviço e obra, ainda iludido pelo “quem gosta de futebol, gosta do Benfica”, o presidente renovou com um treinador que nada tinha ainda conquistado. Depois de um segundo ano que foi uma bagunça, não só dentro de campo, e em que houve um claro desligar entre o treinador e a bancada, que é meio caminho andado para o abismo, Rui Costa acreditou que era possível reviver aquele primeiro ano de idílio, como se, no futebol, as cicatrizes se apagassem. Não há milagres em terreno minado.
À 4.ª jornada do terceiro ano de Schmidt, com um plantel feito à medida do treinador alemão que inusitadamente tornou o enérgico gegenpressing em molegão gegendepressing, o Benfica entra de novo no loop, aquele loop que levou, por exemplo, Luís Filipe Vieira a despedir Fernando Santos em 2007 depois da 1.ª jornada do campeonato. Ou a não despedir Rui Vitória em 2018 depois de uma madrugada no Seixal em que, afirmou, viu qualquer coisa do campo do paranormal, algo que lhe deu uma resposta. “Foi uma luz que me deu”, afirmou arrojadamente sobre uma decisão executiva da sociedade anónima desportiva mais representativa do futebol nacional.
Fernando Santos não foi campeão pelo Benfica, mas Vitória tinha sido e saiu ano e meio depois. Depois disso, Bruno Lage também não resistiu na época seguinte ao título. Tinha renovado meses antes, até ao verão deste ano. Deste ano, sim, 2024. Há aqui um qualquer padrão. Curiosamente, fala-se de Lage para render Schmidt (loop), o que seria um regresso meio excêntrico à Luz, como foi o de Camacho, que substituiu Fernando Santos, para não muito durar na sua segunda passagem pelo Benfica. O regresso de Jorge Jesus também correu como todos sabemos. Tudo em loop e um loop frenético e nostálgico, como se o futebol se compadecesse com o que já passou.
Não há época que não se possa salvar e quem vier até pode ser campeão. Bruno Lage foi campeão depois de pegar numa equipa a meio do ano. Mas uns meses depois da glória estava fora. Como se o sucesso não puxasse sucesso no clube que, em Portugal, mais condições tem para o fazer. E quando assim é, o que não está bem não é o banco, não são as contratações. São as fundações, o projeto, é o entrar nesse loop descompensado que só vive de euforia ou depressão. Talvez o Benfica precise de mudar de vida.
O que se passou
Domingo foi um dia em cheio e dourado para os atletas portugueses nos Jogos Paralímpicos de Paris. Apenas num dia, Portugal conquistou três medalhas, mais uma do que em todos os Jogos de Tóquio 2020. Miguel Monteiro foi ouro no lançamento do peso, Diogo Cancela bronze na natação e Cristina Gonçalves fechou a jornada com um ouro no boccia que chegou 20 anos depois do seu primeiro.
Depois da 4.ª ronda no Open da Austrália, Nuno Borges repetiu a gracinha no US Open, numa temporada de afirmação do tenista português, que esta 2.ª feira defronta Daniil Medvedev no torneio nova-iorquino.
Portugal joga esta semana com Croácia e Escócia para a nova edição da Liga das Nações e houve novidades e uma surpresa chamada Quenda na convocatória de Roberto Martínez.
Sporting e Benfica já conhecem os adversários para a nova Liga dos Campeões, com novo formato (para recordar aqui, porque de facto é confuso), tal como FC Porto e SC Braga para a Liga Europa.
Zona mista
Espero que esta medalha impacte da melhor forma. Nós precisamos de atletas e que os pais libertem os filhos para o desporto. É preciso que os miúdos pratiquem desporto, acima de tudo para se sentirem bem, não só física, mas psicologicamente
Foi este o pedido de Miguel Monteiro, primeiro protagonista de um domingo dourado de Portugal nos Jogos Paralímpicos de Paris. Já o chefe de missão Luís Figueiredo tinha antes chamado a atenção para a necessidade de acabar com um estigma que vem até de médicos, que desencorajam a prática desportiva a jovens portadores de deficiência
O que aí vem
Segunda-feira, 2
🎾 Nuno Borges joga frente a Daniil Medvedev nesta jornada do US Open (a partir das 16h, Eurosport)
⚽ A seleção nacional de futsal prepara o Mundial frente Paraguai (19h, 11)
Terça-feira, 3
🎾 US Open (16h, Eurosport)
🚴 Vuelta: etapa 16 (11h30, Eurosport 1)
Quarta-feira, 4
🎾 US Open (16h, Eurosport)
🚴 Vuelta: etapa 17 (13h30, Eurosport 1)
Quinta-feira, 5
⚽ Portugal estreia-se na nova edição da Liga das Nações frente à Croácia (19h45, RTP1/Sport TV1). Ainda na mesma competição, pode acompanhar o Sérvia-Espanha (19h45, Sport TV2) ou o Dinamarca-Suíça (19h45, Sport TV4)
🎾 US Open (16h, Eurosport)
🚴 Vuelta: etapa 18 (13h30, Eurosport 1)
👟 Atletismo: Diamond League de Zurique (19h, Sport TV6)
Sexta-feira, 6
⚽ Na Liga das Nações, o prato forte é o França-Itália (19h45, Sport TV1)
🎾 US Open (16h, Eurosport)
🚴 Vuelta: etapa 19 (13h30, Eurosport 1)
Sábado, 7
⚽ Mais uma jornada de Liga das Nações, com o Rep. Irlanda-Inglaterra (17h, Sport TV1) e o Alemanha-Hungria (19h45, Sport TV1)
🎾 US Open, final feminina (21h, Eurosport)
🚴 Vuelta: etapa 20 (11h30, Eurosport 1)
🏍️ MotoGP: GP São Marino, sprint (14h, Sport TV4)
Domingo, 8
⚽ Portugal volta a jogar para a Liga das Nações, ao receber a Escócia (19h45, RTP1/Sport TV1). Siga também o Suíça-Espanha (19h45, Sport TV2)
🎾 US Open, final masculina (21h, Eurosport)
🚴 Vuelta: última etapa (13h30, Eurosport 1)
🏍️ MotoGP: GP São Marino, sprint (14h, Sport TV4)
Hoje deu-nos para isto
A impressionante imagem aérea do Estádio do Dragão quase cheio para o jogo de apresentação da equipa feminina do FC Porto será, esperemos, um registo essencial para a história quando um dia alguém se aventurar a compilar os momentos mais relevantes para a edificação, tijolo a tijolo, do futebol feminino em Portugal.
Quando há quase um ano André Villas-Boas lançou as bases do que seria uma candidatura vencedora à presidência do clube, falou da ausência do futebol feminino no FC Porto como “um ponto de vergonha” que não era meramente competitivo: o tecido social da região do Porto, da segunda cidade do país, estava sedento de uma estrutura forte no futebol feminino, sem desprimor para históricos como o Valadares ou o Boavista, tão importantes nos primeiros passos.
Mais de 31 mil pessoas - homens, mulheres, jovens, mais velhos, porque o futebol feminino é para todos apreciarem - responderam ao apelo para abraçar a nova equipa da região, como antes tantas miúdas e jovens apareceram nas captações. Há muito que o FC Porto devia isto à sua cidade, aos seus arredores. Chegou com muito atraso, demasiado, mas o importante é chegar.
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