Se o brasileiro tem alma de domingo, como dizia Nelson Rodrigues, essa vantagem científico-divina transferiu ao longo da História migalhas de uma matéria impossível para as botas de certos futebolistas do país, sobretudo para as de Pelé, campeão do mundo aos 17 anos e repetente em 1962 e em 1970. Durante o século passado, o futebol deixou de estar mal visto e a literatura beijou-o na testa. Eduardo Galeano, cidadão da primeira nação campeã deste planeta, mirou Diego Maradona, a sua fantasia e o golo pecaminoso com a mão e chamou-lhe “deus sujo, o mais humano dos deuses”. Mas o escritor uruguaio viveu o suficiente para ver um tal de Lionel Andrés Messi Cuccittini e agradeceu aos céus por esse pibe nunca ter acreditado que era Messi. E chamou-lhe “milagre”.
Como “os deuses não se aposentam”, o futebol corre sempre por essas águas cósmicas a cada quatro anos, destapando as inúteis e irresistíveis comparações. O que aconteceu no Catar quase pertenceu à ficção científica e escancarou o paraíso para o canhoto de Rosário. Após um aquecimento e uma derrota de película contra a Arábia Saudita, ouviu-se nas ruas a pergunta “onde está Messi?”, saída das gargantas de alguns atrevidos. Messi, mesmo com tantas Bolas de Ouro, tantos golos e tantos títulos, nunca seria o maior de todos os tempos ou até do seu país sem o troféu que imortalizou Maradona em 1986, rosnavam alguns sábios ou candidatos a sábios. Então, apareceu no Médio Oriente o Messi mais ‘maradoniano’ alguma vez visto.