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Argentina, a contradição do Mundial: o país da maior crise económica tem adeptos que “acreditam ser fanáticos”. Logo, agem em conformidade

Mundial 2022

Maja Hitij - FIFA

Mesmo com uma brutal desvalorização do peso argentino, com restrições do próprio governo para comprar dólares e com a quinta maior inflação do mundo, os argentinos estão entre os adeptos mais presentes no Catar, uma contradição movida a Lionel Messi e a um fanatismo capaz de superar qualquer obstáculo económico e de influenciar no desempenho dos jogadores, motivados pela chamada ‘scaloneta’. Reportagem em Buenos Aires

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Márcio Resende, em Buenos Aires

Se a vitória em campo dependesse da claque na bancada, a Argentina já seria a campeã, antecipadamente. Ao longo de todo o Mundial, um incansável enxame de apaixonados adeptos chama a atenção do mundo e contagia de alegria os demais estrangeiros.

Segundo as autoridades argentinas, cerca de 35 mil adeptos partiram de Buenos Aires rumo ao Catar no começo do torneio. A esses, somam-se, pelo menos, outros 10 mil entusiastas que partiram à medida que a seleção avançava no torneio. Desde a semifinal, a companhia Aerolíneas Argentinas tem aumentado o número de voos a Doha. Todos partem lotados.

O cálculo de 45 mil adeptos não considera aqueles argentinos que vivem no exterior e aqueles que compraram trechos aéreos independentes, através de passagens avulsas, à medida que juntavam dinheiro.

“O argentino está completamente louco. Eu pensava que estava louco até que vi gente a vender um carro ou um terreno para poder viajar. Venderam uma segunda casa ou um segundo terreno para ir ao Catar. Um argentino é capaz de tudo. Sabendo que é o último Mundial de Messi e como a nossa seleção está a jogar, estamos unidos todos os argentinos. Os estrangeiros não entendem porque é preciso senti-lo para entendê-lo”, explica à Tribuna Expresso Jonatan Luna, de 32 anos.

Jonatan considera que os seus compatriotas estão loucos, mas o próprio optou por viajar ao Catar em vez de ter a sua própria casa.

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