Verão de 2021. Um neerlandês de 70 anos goza a reforma no Algarve, passando boa parte dos dias a jogar golfe. Até que algo que ocorrera semanas antes, em Praga, espoletou uma mudança na vida daquele homem, tornando o seu futuro num regresso ao passado.
A 27 de junho de 2021, a seleção dos Países Baixos caiu derrotada (2-0) contra a República Checa nos oitavos de final do Europeu. Depois de ter falhado as qualificações para o Euro 2016 e Mundial 2018, o reaparecimento neerlandês nos grandes palcos saldava-se por nova desilusão. Desde o terceiro lugar obtido no Brasil 2014 que o sumo espremido da seleção laranja tinha sabor triste.
Tal como na frase anterior, o pensamento à volta de Brasil 2014 invadiu a cabeça de adeptos, jornalistas e dirigentes. Era preciso regressar a esse momento de alegria, quando a união coletiva construída ficou a um desempate por penáltis de eliminar a Argentina de Messi e estar na final do Maracanã contra a Alemanha. A opção de chamar de volta o general na reserva que construíra aquela equipa parecia consensual.
Foi assim que o telefone de Aloysius Paulus Maria van Gaal tocou. O neerlandês não trabalhava desde 2016, quando abandonou o Manchester United dizendo ter “um paraíso à espera” em Portugal, para o qual iria “jogar golfe, aproveitar a fantástica comida, os vinhos de grande qualidade, a praia e o clima muito agradável”.
Truus, a sua mulher, disse a Louis van Gaal que o técnico deveria rejeitar o convite. O treinador tomou a opção oposta e interrompeu a reforma para, pela terceira vez, assumir o comando da equipa nacional. Depois do fracasso de 2002, quando falhou a qualificação para o Mundial, e o êxito de 2014, cabia ao vencedor de 20 títulos ao serviço de gigantes como Ajax, Barcelona, Bayern ou Manchester United a tarefa de reerguer um clássico em crise do futebol de seleções.