Ver Cristiano Ronaldo no banco já não era surpresa na Premier League, mas na seleção nacional o caso muda de figura. E a estrondosa vitória de Portugal frente à Suíça por 6-1 foi comentada pelos meios internacionais precisamente sob este prisma: sem o seu capitão, sem o avançado de 37 anos, Portugal libertou-se, fez o seu melhor jogo em anos. E o protagonista máximo do jogo foi o seu substituto, Gonçalo Ramos.
“Havia uma leveza em Portugal, um sentimento de alívio, de imaginação. [Gonçalo] Ramos movimentou-se e permitiu que outros se movessem. E aquela linha média atacante de Portugal - Bruno Fernandes, Bernardo Silva e João Félix - está cheia de talento criativo à espera de ser libertado”, pode ler-se na crónica de Jonathan Wilson para o “Guardian”, onde o jornalista e escritor ainda arrisca uma curiosa comparação entre Fernando Santos e o detetive Columbo, interpretado por Peter Falk nos anos 70, comparando o seu ar “amarrotado” a “um homem que nunca fez algo interessante na vida por vontade própria”.
Fora essas considerações, o “Guardian” sublinha que a opção de Fernando Santos em deixar Ronaldo no banco foi “obviamente vingada” depois de Gonçalo Ramos marcar o primeiro hat-trick deste Mundial.
Do outro lado do Atlântico, uma enorme foto de Gonçalo Ramos a festejar cobre a secção de desporto do “New York Times”, que sublinha também que Fernando Santos “não tem de explicar as suas decisões”.
“O seu trabalho está feito. Ramos marcou três vezes. Portugal ganhou”, pode ler-se no diário norte-americano, que diz ainda que a vitória de Portugal frente à Suíça “rivaliza” com a do Brasil com a Coreia do Sul como a exibição “mais impressionante” do Mundial.
Aqui mais perto, o “El Pais” titula “Portugal liberta-se sem Cristiano e atropela a Suíça”. A crónica do jogo começa com um expressivo “a catarse curou a melancolia de Portugal”, referindo-se, claro está, à decisão de Fernando Santos em deixar o melhor jogador do país de todos os tempos no banco.
“Portugal deixou de ser a coutada do goleador de 37 anos para se converter na equipa de Bernardo Silva, Bruno Fernandes e João Félix, três jogadores superlativos que se definem pelo seu sentido associativo, a sua generosidade e a sua visão global do jogo, tudo aquilo que nunca caracterizou Cristiano Ronaldo”, escreve ainda o diário espanhol, que diz também que Portugal "somou-se às equipas favoritas” à vitória no torneio.
“Portugal voa sem Cristiano”, lê-se ainda no “As”. Já o diário “Marca” frisa que “Portugal completa com toda a justiça o grupo das oito seleções que jogarão os quartos de final” do Mundial e que o adversário não será o previsto, aludindo à eliminação da Espanha com Marrocos.