Stéphanie Frappart continua a garantir que qualquer mulher que decida ser árbitra depois de ela própria ter tomado essa decisão terá algo com que ambicionar. Toda a sua carreira provou que é possível, mas agora está a conseguir fazê-lo no maior palco que o futebol conhece: o Campeonato do Mundo. E, desta vez, não está sozinha.
No Catar, são seis as mulheres que vão arbitrar no torneio pela primeira vez na história. Três delas vão liderar equipas como árbitras principais e outras três serão assistentes.
O momento alto desta participação chega esta quinta-feira, com o jogo da fase de grupos entre a Costa Rica e a Alemanha. A equipa de arbitragem será constituída apenas por mulheres, fazendo com que Stéphanie Frappart se torne a primeira mulher a arbitrar num Campeonato do Mundo de futebol masculino. O feito chega logo após se tornar a primeira a integrar um grupo de árbitros, como quarta árbitra, num Mundial, no jogo entre o México e a Polónia.
“Conhecemos a pressão”, disse Frappart à “BBC Sport” antes do torneio. “Mas penso que não nos vamos mudar a nós próprias. Estejam calmas, focadas, concentradas e não pensem demasiado nos meios de comunicação social e em tudo, concentrem-se apenas no campo”.
No estádio Al Bayt, Frappart terá a companhia da brasileira Neuza Back e da mexicana Karen Diaz Medina como árbitras assistentes.
A mentalidade da árbitra não tem mudado ao longo dos anos e talvez seja isso que a leva de sucesso em sucesso. Em 2019, depois de se estrear na Ligue 1 masculina, aquele que seria o momento mais importante da sua carreira até então, afirmou à “AFP”: “Sei que este jogo entrou na história e sei que estavam à espera para me ver, mas levei-o como outro jogo qualquer. Mostrei hoje que tenho competência e capacidade para estar ali”.
O que se seguiu a esse ano foram mais três de muitas conquistas. Arbitrou a sua primeira final, no Mundial de futebol feminino, em França; em seguida foi a responsável pela final da Supertaça Europeia masculina, entre o Liverpool e o Chelsea. É também a primeira mulher a comandar um jogo da Liga dos Campeões jogada por homens, da qualificação para o Mundial e também a final da Taça de França.
Fazer história, a esta altura do campeonato, já é quase como um passatempo para Stéphanie Frappart.

Fantasista
A paixão pela profissão surgiu quando tinha 13 anos. “Joguei futebol na escola, metade do tempo com os rapazes, mas também com as raparigas. O meu pai era jogador, por isso fomos com a minha mãe vê-lo jogar num domingo e foi assim que começou. Depois de ter começado a jogar, quis conhecer a lei do jogo, por isso comecei a ir ao departamento local para árbitros e em França, depois de dois dias de treino, vais para o campo. Tinha cerca de 13 anos quando comecei a arbitrar miúdos de 9, 10 anos em clubes”, contou ao Women’s Sport Alliance.
Quando entrou na universidade tornou-se impossível conciliar o curso com o facto de ser jogadora e árbitra. Foi aí que optou por continuar apenas como árbitra e deixou de lado a ideia de jogar. A decisão que ditou a carreira de maior sucesso na arbitragem feminina.
“Talvez só tenha tido uma ou duas más experiências de ‘oh, é uma mulher’, mas nunca penso nisso porque sempre fui bem recebida por jogadores, equipas e clubes. Comecei a arbitrar competições masculinas e era a única mulher. Depois disso fui para o feminino. Fui sempre impulsionada pela comissão de arbitragem e também quando chego ao estádio ninguém olha para mim como uma mulher, olham para mim como uma árbitra”, continuou.
O nome de Frappart está na reconhecida lista de árbitros da FIFA desde 2009. A sua primeira grande ascensão aconteceu em França. Começou por apitar jogos da terceira divisão de futebol masculino francesa, em 2011. Três anos depois, tornou-se a primeira mulher a arbitrar na Ligue 2 e, eventualmente, a primeira árbitra na Ligue 1.
Se mais provas faltassem, foi nomeada a melhor árbitra do mundo pela Federação Internacional de História e Estatística do Futebol (IFFHS) em 2019, 2020 e 2021.
Antes do início do Mundial 2022, Frappart disse esperar que a inclusão de árbitras no torneio do Catar “fizesse as coisas acontecerem” a um nível mais amplo. “É um sinal forte da FIFA e das autoridades ter árbitras naquele país”, disse.
Quando, esta quinta-feira, estiver no Catar a entrar em campo no papel de árbitra principal e acompanhada apenas por mulheres, estará a assinar o momento mais alto de uma carreira quase toda em sentido crescente, mas será também o rosto de um passo histórico e enorme para as árbitras de todo o mundo.