No Catar existem concursos de beleza de camelos. Os donos, sequiosos de fama e dos prémios, que podem valer cerca de 250 mil euros (um milhão na moeda local, o rial catarense), arriscam cirurgias nas bossas, almejando a forma perfeita, outros colocam botox nos lábios das pobres criaturas. Nas competições existem raio-X e meticulosas vistorias à carapaça do animal. “Mangiah Ghufran”, limpinho da miséria, da corrupção, do botox e eleito o mais belo dos camelos do Golfo Pérsico, levou anos a ser preparado para o momento.
Mais tradicional e sagrada é a devoção aos falcões. À porta de uma clínica especializada em Al Khor, a 50 quilómetros do centro de Doha, os carros ficam ligados à porta com o ar condicionado ligado. O principal hospital desta cadeia, na popular zona do Souq Waqif, está fechado por causa do Campeonato do Mundo. As estradas estão encerradas e os falcões, muitos deles protagonistas em corridas, não estão autorizados a circular no metro que ainda cheira a novo. Por ali substituem-se penas, fazem-se exames às entranhas — testemunhámos uma endoscopia a um falcão enquanto se queixava em agonia — e ao sangue, mas também há tratamento de beleza e de guerra, já que se afia o bico e garras para a caça. Lá dentro, um veterinário iraquiano, fugido da guerra no início do século para fazer o doutoramento, explica tudo com um detalhe que denuncia o deslumbramento. “Os olhos são muito grandes, é uma das coisas bonitas. Veem perfeitamente até 10 quilómetros. É poderoso, têm quatro lentes, duas panorâmicas e duas de zoom”, entusiasma-se Ikdam Alkarkhi, revelando que recebem entre 100 e 150 pacientes por dia. A certa altura revela: “Quando matam, os falcões cobrem as presas com as asas, para que os outros nada vejam.”