O Club Brugge é atualmente uma das grandes surpresas do futebol europeu. Num grupo onde estavam FC Porto, Bayer Leverkusen e Atlético Madrid, a equipa belga conseguiu ser uma das duas que sobreviveram à fase de grupos da Liga dos Campeões. Foi nessa onda de surpresas que Andreas Skov Olsen chegou ao Mundial no Catar, com o peso da expetativa de quem o viu brilhar nos campos da Bélgica e da Europa.
Desde que a temporada começou fez 21 jogos ao serviço do seu clube, entre a liga e a supertaça belgas e a liga dos campeões, e marcou oito golos, um deles na vitória por 4-0 contra o FC Porto. Foi ainda o responsável por cinco assistências. A importância na seleção da Dinamarca também ninguém lhe tira. Na fase de qualificação para o Mundial, a equipa ficou em primeiro lugar do Grupo F, com nove vitórias e uma derrota. Skov Olsen contribuiu com cinco golos.
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Foi nesta altura, e com o desempenho nos jogos para a Liga das Nações, que consolidou o seu lugar na seleção da Dinamarca, apesar de se ter estreado em 2020. Na altura, num jogo contra as Ilhas Faroé, precisou de apenas 22 minutos para marcar. Se ainda assim este parece um nome novo nesta equipa, é porque no último Europeu, que viu a Dinamarca chegar às meias-finais e ficou marcado pelo momento em que Christian Eriksen sofreu uma paragem cardíaca em campo, o jogador não foi uma das escolhas para a titularidade.
A carreira de Skov Olsen, na verdade, foi sempre essa sucessão de oportunidades e obstáculos. Nem era suposto estar hoje onde está.
Aos 14 anos, foi com o pai a uma consulta e os dois ouviram do médico: “Talvez esteja na altura de desistir do futebol”. O jogador sentia dores fortes no quadril e a única solução passava por uma cirurgia que poderia ditar o fim do sonho de se tornar futebolista profissional. Mas o dinamarquês arriscou e, no final, as probabilidades estavam a seu favor. Um ano e meio depois, voltou a jogar.
Ainda houve quem tentasse encontrar-lhe outro problema físico, dizendo que é demasiado alto para esta modalidade. Skov Olsen tem hoje 1,87m e é jogador de futebol profissional.
Começou na academia do Nordsjælland, famoso pela qualidade da sua formação, e jogou em todas as divisões juvenis na Dinamarca. Em julho de 2019 assinou pelo Bologna, de Itália, que três anos mais tarde o vendeu ao Brugge por menos do que o tinham adquirido. Aquilo que poderia ter sido visto como um retrocesso, acabou por ser o enorme salto que lhe garantiu um lugar no Mundial do Catar.
A nível de seleção, o seu percurso também não foi sempre linear, mesmo antes do Euro 2020. Nos sub-19 já dava nas vistas e chegou a marcar 15 golos em 14 jogos, mas mesmo assim não conseguia convencer o treinador, que continuava a querer mais dele. "Era um jogador talentoso e habilidoso, com bom impacto ofensivo mas também com desempenho variável", contou Henrik Clausen ao website First Time Finish. “Nessa altura, ele era também um pouco imaturo”.
Quando chegou o momento de jogar a fase de qualificação para o Europeu de sub-19, Clausen tomou a decisão de deixar de fora Skov Olsen.
“Pelo que ouvi e me foi dito, foi uma das coisas que o fez concentrar-se mais no desenvolvimento e em melhorar, em vez de apenas estar satisfeito com o seu nível atual. Ouvi tanto ele como o Flemming Pedersen [treinador do Nordsjælland] dizerem que foi uma lição importante para ele”, recordou o selecionador.
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E resultou mesmo. No ano seguinte, ao serviço da equipa principal do clube dinamarquês, em 44 jogos marcou 26 golos e fez seis assistências, o que o levou ao prémio de melhor jogador jovem da temporada no país.
“A sua velocidade, o um contra um e o seu pé esquerdo são as suas melhores características”, continuou o seu ex-treinador, que em 2021, altura em que deu a entrevista, continuava a não estar totalmente certo em relação ao jogador. “Usando os seus pontos fortes, ele pode causar problemas a todos, embora eu pense que possa ser um pouco cedo. Mas nunca se sabe”.
No Euro 2020, que se jogou em 2021 por causa da pandemia causada pela covid-19, Kasper Hjulmand, treinador da Dinamarca, também parece ter achado cedo. Talvez tenha sido isso, mais uma vez, que o fez trabalhar em dobro no ano seguinte para estar onde quer estar.
No primeiro jogo do Mundial do Catar, os dinamarqueses empataram 0-0 contra a Tunísia, num jogo em que Skov Olsen foi titular. O grupo é neste momento liderado pela França, que venceu a Austrália por 4-1.