Perfil

Mundial 2022

Mundial 2022

Mundial 2022

Além das estatísticas, há cartas manchadas de sangue no Catar: “O legado deste Mundial são viúvas a chorarem maridos”

A Blankspot, uma plataforma de jornalismo sueca, deu cara às histórias dos migrantes que morreram nas construções associadas ao Mundial. As cartas foram enviadas à FIFA, ao comité organizador e a patrocinadores, mas as respostas foram vagas ou inexistentes

Pedro Barata

Kalleda Vinoda segura um retrato do marido Ramesh, que morreu nas construções do Mundial, juntamente com o filho Sravan, em Velmal, na Índia

NOAH SEELAM/Getty

Partilhar

A estatística mais assustadora do Mundial 2022 é, na verdade, um número desconhecido. Ninguém o sabe determinar ao certo. Mas não são golos marcados, dribles realizados ou defesas efetuadas. Trata-se de abusos e exploração. São mortes.

Uma investigação do “The Guardian”, publicada em 2021, revelou que pelo menos 6.500 trabalhadores migrantes da Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka morreram no Catar desde que, em 2010, Sepp Blatter abriu um envelope com o nome do pequeno Estado do Médio Oriente dentro. Segundo a Amnistia Internacional, pelo menos 100 mil trabalhadores migrantes foram “explorados ou abusados” devido à falta de proteção laboral ou acesso à justiça no Catar, nos últimos 12 anos. Já o comité organizador diz que só três pessoas morreram em acidentes de trabalho durante construções associadas ao Mundial.

A embaixadora nepalesa em Doha chegou a dizer que o Catar se tornara numa “prisão a céu aberto” para os trabalhadores do seu país. Ao saber desta trágica realidade, Martin Schibbye, editor-chefe da Blankspot, uma plataforma de jornalismo sueca, quis “falar sobre as pessoas por detrás das estatísticas” e foi “à procura de respostas” na Índia, no Nepal e no Bangladesh.

Artigo Exclusivo para assinantes

No Expresso valorizamos o jornalismo livre e independente

Já é assinante?
Comprou o Expresso? Insira o código presente na Revista E para continuar a ler
  • Da corrupção na candidatura à morte de trabalhadores migrantes: uma triste cronologia do Mundial do Catar
    Expresso

    A atribuição do torneio ao país do Médio Oriente fez parte da teia de subornos que levaram à queda de Blatter ou Platini, expondo práticas criminosas na cúpula do futebol mundial. Nos últimos anos, o desrespeito pelos direitos de trabalhadores —muitos faleceram enquanto construíam as infra-estruturas do torneio em condições indignas — manchou uma competição num país que discrimina mulheres e homossexuais

  • De Montevidéu a Doha, episódio 1: o que fazer para remediar um pouco um Mundial imoral e manchado de sangue?
    De Montevidéu a Doha

    Nada devolverá a vida aos pelo menos 6.500 trabalhadores migrantes que, segundo uma investigação do “The Guardian”, morreram na construção das infraestruturas do Mundial, nem se recuperará uma década de promoção de um país com graves desrespeitos pelos direitos das mulheres ou onde a homossexualidade é crime. Mas diversas organizações pressionam a FIFA, as Federações ou os jogadores para que ainda façam algo para que este Mundial não seja “uma oportunidade perdida”. De Montevidéu a Doha é a rubrica em que, semanalmente e até ao arranque do Mundial no Catar, a Tribuna Expresso trará reportagens e entrevistas sobre a história da mais importante competição global