Em setembro, e na antecâmara do Mundial do Catar, dez federações europeias uniram-se na campanha “OneLove”, contra a discriminação. Neste país do Médio Oriente, recordemos, a homossexualidade continua a ser ilegal e a comunidade LGBTQI+ é perseguida.
A iniciativa, liderada pela seleção dos Países Baixos, levou os capitães dessas mesmas seleções a usar uma braçadeira com as cores do arco-íris, símbolo da comunidade LGBTQI+, e a palavra “OneLove” durante os jogos da Liga das Nações realizados nesse mês. Uma dessas seleções foi França.
Hugo Lloris, habitual capitão dos gauleses, estava então lesionado e foi o central Raphael Varane a usar a braçadeira. O defesa do Manchester United disse ser “uma honra” participar na iniciativa.
Porém, França, na voz do seu guarda-redes, faz marcha-atrás em vésperas do Mundial. Ainda nem havendo luz verde da FIFA para as seleções que aderiram à iniciativa usarem braçadeiras com as cores do arco-íris (Portugal não é, para já, uma delas), Hugo Lloris já se colocou de fora e diz mesmo que é necessário “mostrar respeito” pela cultura e regras do anfitrião do Mundial, que arranca no próximo domingo.
“Fui muito claro sobre isto e não quero falar mais sobre o tema”, disse o guardião do Tottenham numa entrevista à agência France-Presse.
Harry Kane, capitão inglês, com a braçadeira #OneLove
VINCENT MIGNOTT/EPA
“Quando recebemos visitantes estrangeiros em França também queremos que respeitem as nossas regras e a nossa cultura. Vou fazer o mesmo no Catar”, explicou o atleta. O país, além da discriminação da comunidade LGBTQI+ e mulheres, é também acusado de tratamento à margem dos direitos humanos dos trabalhadores migrantes que ajudaram a erguer as infra-estruturas que vão receber o Mundial 2022. De acordo com o diário “Guardian”, mais de 6.500 migrantes perderam a vida em acidentes em obras de estádios, hotéis ou estradas.
Mesmo que a equipa francesa já tenha anunciado que irá doar fundos para organizações de direitos humanos, Lloris diz que é hora de colocar o foco no futebol, numa narrativa que tem sido escolhida também pela FIFA.
O guarda-redes diz que “evitar responder a questões” sobre direitos humanos antes e durante a competição será importante porque “chega a um momento em que é preciso foco no futebol em vez de gastar energia em coisas que não são da responsabilidade” dos jogadores.
França está assim fora de uma iniciativa que, no seu arranque, contou também com o apoio de Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Inglaterra, País de Gales, Suíça, Noruega e Suécia - estas duas últimas seleções não se apuraram para o Mundial do Catar.
A seleção que defende o título mundial do Mundial de 2018 inicia a sua participação no Campeonato do Mundo de 2022 na próxima terça-feira, frente à Austrália, uma das seleções cujos jogadores já se insurgiram contra as violações dos direitos humanos no Catar.