Os adeptos de futebol que pretendem viajar para assistir aos jogos das suas seleções no Mundial do Catar, em novembro e dezembro, têm como grande preocupação o alojamento. A busca por quartos em Doha e arredores disparou e, ainda que, de acordo com a agência Associated Press, alguns fãs tenham optado por dormir em cruzeiros ou mesmo acampar no deserto, os locais estão preocupados com o aumento das rendas.
Alguns dos habitantes do luxuoso petro-estado no Golfo Pérsico terão já abandonado as suas casas devido à escalada dos preços do arrendamento. “Os senhorios estão a tirar partido da situação e não há nada em prática para apoiar as pessoas que já lá vivem”, disse, à AP, Mariam, uma inglesa de 30 anos cujo senhorio se recusou a renovar o seu contrato anual em setembro, para depois quadriplicar a renda mensal de 1.370 para 5.490 dólares, obrigando-a a ir morar para casa de amigos.
No Catar há mais imigrantes do que nacionais, num rácio de nove para um, diz a AP. Em muitos casos, os donos das casas aproveitaram a procura relativa ao Mundial para aumentar em mais de 40% os valores a pagar pelos imóveis. O governo catarense já assumiu a “procura crescente por alojamento” e encorajou os inquilinos que se sintam vítimas da exploração imobiliária a apresentar queixas à comissão de disputas das rendas do próprio estado.
O evento, que só por si atrairia multidões, é também o primeiro do género a ser organizado num estado do Golfo, em pleno outono do hemisfério norte. A organização tem tentado afastar os receios de uma crise imobiliária, sublinhando que o Catar reservou 130 mil quartos, disponíveis através do site oficial do Campeonato do Mundo. Estes quartos, situados em hotéis, aldeamentos, edifícios construídos de propósito e três navios cruzeiros atracados no porto de Doha, têm como diária base 80 dólares, de acordo com os organizadores. Mas a AP diz que não é claro quantas opções de baixo custo existem.
Para ajudar a tranquilizar os adeptos, o governo do Catar disse, num depoimento à agência noticiosa, que há um teto no valor do arrendamento aplicado a 80% dos quartos. No entanto, não ficaram esclarecidas questões como de que forma esse teto é aplicado e, diz a AP, este – aproximadamente 780 dólares por noite no caso de um quarto de cinco estrelas num aldeamento – pode subir, dependendo das comodidades da habitação.
“Tens de ficar e pagar o extra ou ir embora sem saber se vais ter onde viver”, disse um professor inglês que partilha a ideia de que os habitantes permanentes estão a ser levados a ceder os espaços para os jogadores, os elementos da organização e os adeptos. O britânico, que preferiu manter o anonimato, vendeu toda a mobília e vive agora em casa de um amigo, preocupado com o futuro.
Alguns habitantes de Doha chegam a contar que há sinais colocados em vários edifícios, onde pode ler-se: “Escolhido pelo governo para receber convidados e eventos do Mundial 2022”. A AP confirmou a situação, que significa uma ordem para que os atuais ocupantes deixem os seus aposentos nesses imóveis.
Omar al-Jaber, responsável pelo alojamento num organismo governativo, disse que o executivo não teve qualquer influência na terminação dos contratos que estão a afetar os inquilinos a longo prazo. “Para ser honesto, não estamos a controlar o que acontece no mercado”, afirmou al-Jaber.
Os residentes que lutam por encontrar novas casas por causa do aumento das rendas dizem que é praticamente impossível encontrar sítios que encaixem nos seus orçamentos. Diz a AP que a maioria dos apartamentos para duas pessoas na ilha artificial de Pearl, ao largo de Doha, custam mais de 1.000 dólares por noite. Há apartamentos de luxo no mesmo local chegam a custar 200 mil dólares mensais.
Um residente indiano de 32 anos acrescenta que os alojamentos que lhes são fornecidos “não são, de todo, bons”. “Se pudermos pagar, não há cozinha, é demasiado longe ou está dividido em partições. É muito aborrecido”, desabafou.