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Pichardo ainda se assustou no final, nem queria saltar mais. E não sabe se chegará a Los Angeles: “Opá, vamos ver, a família decide”

Pichardo ainda se assustou no final, nem queria saltar mais. E não sabe se chegará a Los Angeles: “Opá, vamos ver, a família decide”
Christian Petersen

Já com a medalha de ouro ao pescoço, o primeiro bicampeão mundial na história do atletismo português falou à RTP e à Antena1, em Tóquio, sobre a conquista no triplo salto. Pedro Pichardo confessa que se assustou na final, dedicou a vitória ao pai e diz que é ele, e a família, quem decidirão se tentará estar nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, quando tiver 35 anos. Depois, pediu mais apoios ao Governo, à Federação e ao Comité Olímpico de Portugal - não tanto para ele, mas para todos os atletas

Foi ultrapassado antes de ser o último a saltar na final. O que sentiu?

“Opá, são muitos anos de experiência, para mim é muito importante deixar sempre um bocadinho de energia para o último salto. Por acaso, não queria saltar mais, pensava que tinha a vitória já do nosso lado, mas quero agradecer também ao atleta da Itália, que puxou por mim e fez com que saísse aquele grande salto. Fiquei assustado, não estava à espera, não é subestimar o atleta, mas esperava que pudesse ser outro atleta, não é ele. 

A minha esposa não gosta, diz sempre para dar tudo no primeiro salto, mas deixo sempre um pouco para se acontecer o que aconteceu hoje. Como também abdiquei do quinto salto, poupei mais energia.Mas ainda tinha um bocado de energia no saco e pronto, saiu um grande salto.”

O primeiro bicampeão mundial português

“Não sabia. Epá, fico muito feliz, só tenho de agradecer a todos os portugueses, a toda a equipa que trabalha comigo e me tem acompanhado, à minha família, à minha esposa, mãe e às minhas filhas, além do fisioterapeuta, o Ricardo Paulino, e ao Dr. José Gomes. Há dois meses estava com uma lesão muito grave na coluna, com uma fratura e um edema, eles conseguiram trabalhar para me recuperar. E, também, ao meu pai, que é meu treinador, que nunca falha.”

Foi campeão olímpico e agora mundial em Tóquio 

“É uma das cidades da minha vida, não me lembro de outra cidade que me tenha dado tanta alegria. É um lugar que vou lugar para a vida toda.”

Os Jogos Olímpicos de Los Angeles e a falta de apoios 

“Já estou velho! Opá, vamos ver, são assuntos um pouco mais reservados, o meu pai e mãe já me puxaram as orelhas da última vez. Eu dependo deles, mais ou menos: o que os meus e a minha esposa quiserem, eu faço. São eles que decidem o que faço na minha carreira. Temos de ver ser o país e as instituições realmente conseguem apoiar o atletismo e olhar um bocadinho mais para nós. O atletismo é das modalidades onde, no nosso país, infelizmente temos pouco apoio. Dão-nos um bocadinho, olham para nós e pensam que já é muito.

Gostaria de dar essa medalha olímpica em Los Angeles, mas, e não só eu, precisamos, nas modalidades, que o país no reconheça e apoie um pouco mais. Eu por acaso não tenho tantas dificuldades pelos contratos e resultados que tenho, mas seria bonita que Governo, do IPDJ, da Federação e do Comité Olímpico de Portugal, estivessem aí para nós, que nos apoiassem como os profissionais que somos.”

O meu pai não me deixou ir embora, pediu-me para fazer mais este ano. Foi ele que me ensinou tudo no desporto, digo sempre que é ele quem vai decidir quando termino a minha carreira. Esta medalha vai ficar em casa do meu pai. Pronto, é que o meu pai, a minha mãe e a minha esposa quiserem, eu faço.

O ouro sabe melhor depois da polémica com o Benfica? 

“Foi mais complicada a lesão, não o clube, eu não saí do mesmo sítio, o clube não me dava pista de treinos nem condições para treinar. Não mudou muito coisa, só o resultado de hoje, continuo entre Setúbal e Itália. Foi mais complicada a parte da minha saúde, e o meu pai também esteve internado, há dois meses estava a lutar pela sua vida. Hoje dedico muito a vitória a ele.”

Gritou “who’s the best?” - Porquê?

“As pessoas sempre colocam dúvidas quando se referem ao Pedro Pichardo. Eu não sou uma pessoa que se expõe muito, mas, como já disse, há dois meses tive uma fratura na lombra e um edema que não me deixavam treinar. Estive muito parado, sem tempo de me preparrar muito tempo. Agradeço ao treinador que tenho, fez magia e, em dois meses, fez-me atingir o top. Cá estamos, ganhámos o ouro.”

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