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O bluff fez de Isaac Nader campeão do mundo nos 1.500 metros

O bluff fez de Isaac Nader campeão do mundo nos 1.500 metros
Cameron Spencer

Numa corrida de trás para a frente, o português superou o britânico Jake Wightman no photo-finish. Esta é a primeira medalha da comitiva nacional nos Mundiais de Tóquio. O atleta de 26 anos junta-se a Carla Sacramento na galeria de campeões do mundo da distância

Os 1.500 metros são uma daquelas distâncias que se situam entre o correr a toda a velocidade e o correr meramente para resistir. Completá-los adiante dos restantes exige delinear uma estratégia mais complexa do que apenas acelerar ou manter o ritmo. Há repelões e momentos de bluff que tornam qualquer previsão feita nos instantes seguintes à partida uma precipitação.

Foi preciso “confiar muito” nas suas “características em corridas mais táticas” para chegar à largada decisiva após uma meia-final em que cometeu "um erro". Para quem está num "bom estado de forma", tudo é possível até mesmo o que não parece.

Isaac Nader, normalmente, é dos que usa a tática da fisga. Dá a entender que as pernas estão em falência e vão ancorá-lo aos lugares mais atrasados e, de súbito, junta-se à dianteira. Era manobra conhecida, mas a maneira tão justa como a concretizou, mesmo em cima da meta, deixou os corações apertados.

Foi ao photo-finish que o atleta de 26 anos (3:34.10), dono de uma explosão final que se sobrepôs à subtração de forças da concorrência, bateu Jake Wightman. O britânico esteve quase sempre na frente, seguido pelos quenianos Reynold Cheruiyot e Timothy Cheruiyot, num sacrifício que acabou por não compensar. O sempre candidato Josh Kerr lesionou-se a meio do percurso.

"Ninguém pode dizer que o Isaac Nader não lutou até ao último metro ou que olhou para trás. Nos últimos 100 metros, acreditei muito que era possível. Vi que tinha mais pernas que todos os outros, menos que o atleta que ficou em segundo. Meti a cabeça no fim, talvez tenha sido a primeira vez que o fiz. Era um ouro que estava em jogo", afirmou à RTP. O título mundial que se seguiu ao bronze nos Europeus de pista coberta, em março, é um objetivo concretizado, mas "o maior sonho fica para 2028", nos Jogos Olímpicos.

Esta é a primeira medalha da comitiva nacional nos Mundiais de Tóquio. Os 1.500 metros já tinham dado felicidade semelhante a Portugal em 1997, quando Carla Sacramento também arrecadou o ouro.

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