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Portugueses procuram últimas vagas para os Jogos Olímpicos nos Mundiais de judo de Abu Dhabi. E Telma Monteiro um recorde absoluto

Portugueses procuram últimas vagas para os Jogos Olímpicos nos Mundiais de judo de Abu Dhabi. E Telma Monteiro um recorde absoluto
David Ramos

A seleção de 14 judocas portugueses, nove em femininos e cinco masculinos, não apresenta a mesma realidade, com alguns a tentarem ‘in extremis’ a qualificação olímpica ou a confirmação nos Jogos, e outros já apurados. Telma Monteiro procura a sexta participação, que seria um recorde a nível mundial no judo

Lusa

Os Mundiais de judo são os instantes finais de um prolongamento, o momento de todas as decisões para alguns dos judocas portugueses, à espera de um resultado que confirme a ida aos Jogos Olímpicos de Paris2024.

“Estão a 30 segundos do prolongamento terminar e tudo vai ser possível”, perspetivou à agência Lusa o presidente da Federação Portuguesa de Judo, Sérgio Pina, quando Portugal compete a partir de domingo nos Mundiais da modalidade.

Em Abu Dhabi, a seleção de 14 judocas portugueses, nove em femininos e cinco masculinos, não apresenta a mesma realidade, com alguns a tentarem ‘in extremis’ a qualificação olímpica ou a confirmação nos Jogos, e outros já apurados.

Para Sérgio Pina o desejo é óbvio, de que todos o consigam, embora exista também a consciência que tal pode não acontecer.

Catarina Costa (-48 kg), Bárbara Timo (-63 kg), Patrícia Sampaio (-78 kg), Rochele Nunes (+78 kg) e Jorge Fonseca (-100 kg) são os judocas que têm, à partida, o lugar seguro nos próximos Jogos, em contraste com ‘cinco’ que jogam cartada decisiva nos Mundiais.

João Fernando (-81 kg, 2.443 pontos) e Taís Pina (-70 kg, 2.341) estão em lugares de ‘quota’, o que significa, caso não se qualifiquem por classificação direta nas respetivas categorias, que podem discutir a entrada nos Jogos com Telma Monteiro (-57 kg, 2.296), Maria Siderot (-52 kg, 2.067) e Rodrigo Lopes (-60 kg, 1.813) e quando os cinco estão separados por cerca de 700 pontos.

Uma análise sem contabilizar as ‘variáveis’ de outros judocas internacionais que também podem correr pelas quotas continentais (12 em femininos e 13 em masculinos na Europa, sem repetição de nacionalidades), ou na realocação das quotas excedentárias.

Para os virtualmente apurados, os Mundiais continuam a ter a importância das medalhas, mas em ano olímpico existe também a ponderação de não se correrem riscos desnecessários, que possam trazer problemas físicos antes de Paris2024.

“É daqueles Mundiais, com certeza, há uns que vão dar tudo por tudo, outros se calhar vão com algumas cautelas, mas sempre com o objetivo de medalhar como é óbvio. É um grupo de judocas que dá garantias e que com certeza tudo farão para virem de lá, como se diz, com a carica ao peito”, considerou Sérgio Pina.

A seleção portuguesa, que contará com os selecionadores Pedro Soares e Marco Morais, e os treinadores de clube Ana Hormigo e João Neto, compete apenas na variante individual, com os combates a decorrerem na Mubadala Arena entre domingo e quinta-feira, das categorias mais leves até às mais pesadas.

Globalmente, a competição prevê a participação de 682 judocas, de 110 países, com a inscrição de oito líderes mundiais, sete vice-líderes e sete campeões mundiais em título entre as 14 categorias.

Federação espera apuramento de Telma

O apuramento de Telma Monteiro para os sextos Jogos Olímpicos da carreira seria um “gosto para o judo nacional”, com a medalha de bronze do Rio2916 a tentar tudo nos Mundiais de Abu Dhabi, a partir de domingo.

“Seria um gosto para o judo nacional que a Telma Monteiro conseguisse ser apurada. Uma judoca que está no mais alto nível durante este tempo todo, conseguir ir aos sextos Jogos Olímpicos, penso que seria um recorde que iria perdurar durante muito tempo”, disse à agência Lusa o presidente da Federação Portuguesa de Judo (FPJ), Sérgio Pina.

Telma Monteiro, a judoca portuguesa mais medalhada de sempre, procura a sexta participação olímpica, o que seria um recorde no desporto feminino português, mas também do judo mundial, cujo recorde já detém, a par de outros cinco judocas - Jorge Bonnet, Driulys González, Maria Pekli, Ryoko Tamura-Tani e Robert Van de Walle.

“Como atleta que é, eu teria muito gosto. Não quero dizer com isto que gosto menos de todos os outros que estão, mas teria um grande agrado que a Telma Monteiro fosse qualificada”, acrescentou Sérgio Pina.

O cenário para Telma Monteiro não é fácil, depois de a judoca do Benfica ter perdido esta semana o lugar de entrada, via quota continental, e após um longo período em que esteve parada e a fez descer de uma posição de qualificação direta em -57 kg.

A judoca, de 38 anos, sofreu em novembro uma lesão grave, mais uma na sua carreira, desta vez uma rotura do ligamento cruzado interno do joelho esquerdo, que a forçou a uma paragem de cinco meses, regressando apenas nos Europeus em abril.

Uma paragem que a impediu de somar pontos e a deixou, pela primeira vez, fora das ‘contas’ olímpicas, com Telma Monteiro a ser também ultrapassada por João Fernando, com mais pontos e a cair para a quota continental, e pela jovem Taís Pina, a segurar uma quota de realocação.

Um contexto que leva Telma Monteiro a poder precisar de ter melhores resultados do que os seus companheiros nos Mundiais de Abu Dhabi ou reentrar na classificação direta, em contas de apuramento que também podem colocar na luta judocas de outros países.

Os Mundiais surgem como um ‘tudo ou nada’ para alguns dos portugueses e Telma está nesse leque com a ‘máquina de calcular’ à espera de sucesso nos combates que venha a realizar na segunda-feira na Mubadala Arena, em Abu Dhabi.

“Está perfeitamente consciente, e há de estar plenamente, de que ali vai ser passo a passo, e vai ser ou ir aos jogos ou não ir aos jogos. E, portanto, ela tem de ir buscar as forças todas aonde a gente também nem imagina que elas estão. Mas estou convencido que a Telma irá fazer tudo por tudo, não vai, como se costuma dizer, dar a derrota de barato”, considerou o presidente da FPJ.

João Fernando (2.443 pontos) e Taís Pina (2.341) ocupam 'quotas' - lugares atribuídos fora da classificação direta para os judocas com mais pontos -, à frente de Telma Monteiro (2.296), Maria Siderot (2.067) e Rodrigo Lopes (1.813).

Na quota continental, João Fernando ocupa o sétimo lugar entre os 13 masculinos atribuídos à Europa, sabendo-se que os femininos atribuem 12, mas o continente não pode ter repetição de judocas por país.

Taís Pina, depois de ter sido medalha de ouro no Grand Slam do Cazaquistão, passou a ser a segunda portuguesa com mais pontos fora dos qualificados diretamente, por isso encontra-se na designada quota de realocação, destinadas a três vagas excedentes dos continentes.

Caso algum judoca reentre na classificação direta da sua categoria - com cada uma a apurar 17 elementos, com exceção a franceses ou repetição de nacionalidades -, será possível reavaliar as entradas dos mais pontuados que se seguem, tendo sempre em conta a hierarquia que engloba todos os judocas e, também aqui, descartando repetições de países na quota continental.

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