No ano em que Tom Brady anunciou o adeus - desta vez for good, garantiu - há um outro quarterback a entrar perigosamente em terreno bradiano. Aos 27 anos, praticamente adolescência em idade de quarterback, Patrick Mahomes é duas vezes campeão da NFL, depois de levar os Kansas City Chiefs ao segundo Super Bowl em quatro temporadas, com uma apertada vitória por 38-35 frente aos Philadelphia Eagles, num jogo marcado pela predominância do ataque sobre a defesa e por uma reviravolta dos Chiefs, que ao intervalo tinham uma desvantagem de 10 pontos.
Mahomes, que junta a precisão dos quarterbacks clássicos a uma fantasia digna de um artista de sapateado, sabia que tinha pela frente uma tarefa que, na história da NFL, estatisticamente lhe seria desfavorável: do outro lado, no lado dos Eagles, estava a equipa mais equilibrada da liga, uma máquina atacante também excelente a defender. Nos Chiefs, a sinfonia é muitas vezes obra de um homem só, ele próprio, Mahomes, mágico capaz dos lançamentos menos ortodoxos, das soluções mais criativas - e isso nem sempre chega.
E assim pareceu na 1.ª parte, com Jalen Hurts, o quarterback dos Eagles, a combinar o jogo por terra, onde é exímio, com lançamentos certeiros para os seus receivers. Mesmo com a sociedade Mahomes-Travis Kelce a funcionar, os Eagles transpiraram sempre mais segurança, em drives mais simples. Hurts, só na 1.ª parte, correu para dois touchdowns, para lá de um passe para A.J. Brown também chegar à endzone. Os Chiefs mantiveram-se à tona graças ao único erro grave de Hurts ao longo do jogo, uma perda de bola no 2.º período que Nick Bolton aproveitou para transformar numa pick 6 e touchdown para os Chiefs.

Gregory Shamus
Ao intervalo, o 24-14, vantagem dos Eagles, confirmava a lógica de que para ganhar um Super Bowl, mais do que uma estrela, é preciso uma grande equipa. Com a linha ofensiva a funcionar quase na perfeição, Jalen Hurts teve todo o espaço para gerir o jogo da equipa de Filadélfia.
Foi já depois de Rihanna cantar nas alturas do State Farm Stadium, em Glendale, no Arizona, que Patrick Mahomes decidiu mandar a lógica do futebol americano às malvas, mesmo após terminar a 1.ª parte em dores ao magoar o tornozelo. Com uma linha ofensiva que sempre o protegeu bem, não permitindo qualquer sack, a fantasia de Mahomes encontrou o amor num lugar que, durante a 1.ª parte, pareceu sem esperança, como minutos antes havia cantado a estrela dos Barbados.
Isiah Pacheco, jovem running back rookie, surgiu também mais elétrico que nunca, reduzindo logo no primeiro drive da 2.ª parte o resultado para 24-21. Já no 4.º período, um passe de Mahomes para Kadarius Toney colocou os Chiefs pela primeira vez em vantagem - e os Eagles pela primeira vez atrás no marcador em toda a fase de playoffs - e um terceiro passe para touchdown de Mahomes encontrou Skyy Moore para colocar as contas em 34-27.
Se a estrela de Mahomes começava a brilhar, os números de Jalen Hurts seguiam também impressionantes: mesmo com a sua linha ofensiva aparentemente mais cansada, o quarterback dos Eagles ainda empatou o jogo a cinco minutos do final, com mais uma corrida para a endzone, tornando-se no primeiro quarterback da história com três touchdowns em corrida.

Kevin Sabitus
Aos Chiefs bastava então jogar com o relógio e tentar marcar pontos de forma a que os Eagles já não tivessem tempo de responder. Um field goal de Harrison Butker deixou a equipa de Kansas City definitivamente na frente. Com apenas oito segundos para tentar fazer algo, Hurts, que terminou o jogo com 304 jardas de passe e 70 jardas corridas, este último registo um recorde no Super Bowl, já não teve forças para um derradeiro lançamento, numa final histórica entre dois quarterbacks negros, algo que nunca tinha acontecido.
Prevaleceu assim a próxima grande estrela da NFL, isto se pudermos falar de futuro e não de um presente que é bem real: Patrick Mahomes está aí para bater todos os recordes e esta temporada juntou o título às distinções individuais de MVP da temporada e também de melhor jogador do Super Bowl. Aos 27 anos, Tom Brady já tinha três títulos, Mahomes tem apenas dois, mas o seu teto parece interminável e a cada ano parece refinar o jogo. Tem mais que tempo para se aproximar do melhor de sempre.
Para os Chiefs é também o terceiro título, depois de 1970 e 2020. Nos últimos quatro anos chegaram a três finais. Uma dinastia poderá estar pronta a formar-se, porque mesmo não sendo a melhor equipa, têm o mais especial dos jogadores.