Depois de muita polémica e diversas opiniões, a World Athletics poderá ter optado por manter as mulheres transexuais a competirem nas provas femininas. Uma alegada proposta da associação que gere o atletismo a nível mundial terá sido enviada às suas federações-membro e será levada a votação já em março, na próxima reunião agendada do Conselho da entidade.
Documentos vistos pelo “The Telegraph” mostram que a proposta da World Athletics pretende reduzir para metade o nível de testosterona plasmática máxima permitida para atletas trans - para 2,5 nanomoles por litro de sangue -, além de aumentar para o dobro (dois anos) o período em que devem permanecer abaixo desse valor antes de serem autorizadas a competir.
Ainda assim, a proposta vem acompanhada de informações que talvez sejam motivo de discórdia no momento da votação. Segundo o “The Guardian”, no mesmo documento afirmam que as mulheres transexuais “mantêm uma vantagem em massa muscular, volume e força sobre as mulheres cis após 12 meses” de tratamento hormonal, e que “os dados experimentais limitados” sugerem que essas vantagens continuam depois de tudo isso.
A World Athletics confirma ainda que a passagem pela puberdade provoca também algumas diferenças entre os dois géneros, como na altura ou peso, que poderão significar uma vantagem. Essas diferenças “não responderão à supressão dos níveis de testosterona sanguínea” no caso das mulheres trans que já tenham passado pela puberdade.
Fiona McAnena, diretora do grupo Fair Play for Women, já se manifestou publicamente contra esta proposta. “É incontestável que os efeitos da puberdade masculina são irreversíveis. A supressão da testosterona afeta um pouco o desempenho masculino, mas não elimina a vantagem masculina”, disse ao ‘The Telegraph’. “O desporto depende da justiça. As categorias, por idade, sexo e deficiência, são como o tornamos justo e inclusivo para todos. A inclusão trans leva à exclusão feminina”.
Desde que a notícia foi dada, também algumas atletas se juntaram a este coro de oposição às propostas divulgadas. As britânicas Beth Dobbin e Ellie Baker estão entre esse grupo.
“As mulheres merecem competir exclusivamente contra competidores que não têm nenhuma das vantagens que a categoria feminina existe para excluir. Testosterona é o que cria estas vantagens e baixá-la não nivela o campo de jogo”, escreveu Dobbin no Twitter.
“Adoro atletismo. Treino muito todos os dias para atingir os meus objetivos neste desporto, mas se isto for permitido, isso irá tirar o sustento às mulheres biológicas. Não temos qualquer hipótese, mais vale desistirmos agora. Eu não sou anti-trans. É apenas uma questão do que é justo e do que não é”, defendeu Baker.
Da parte da World Athletics, um porta-voz já veio informar que o facto de esta opção existir não significa que ela será adotada. “Em termos dos nossos regulamentos de elegibilidade feminina, vamos seguir a ciência, a década e mais investigação que temos nesta área, a fim de proteger a categoria feminina, manter a equidade nas nossas competições e permanecer o mais inclusivos possível”, disse segundo o “The Guardian”.