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Ian Thorpe está contra a decisão da FINA sobre nadadoras trans: “Sou a favor da igualdade. Tomaram a decisão errada”

Desde que deixou a modalidade, o campeão olímpico Ian Thorpe tem usado a sua plataforma em defesa da comunidade LGBTQ+. É por isso que a decisão da FINA de impedir algumas nadadoras trans de participar em competições femininas não o deixou satisfeito, com o nadador a lembrar que, olhando para os número, é “improvável” que um atleta que passou pelo difícil processo de transição “alguma vez consiga ganhar uma medalha de ouro olímpica”

Rita Meireles

Quinn Rooney

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Em junho, a Federação Internacional de Natação (FINA) anunciou que as nadadoras trans não poderão participar nas competições femininas a não ser que provem não ter passado pela fase da puberdade masculina para lá do nível 2 de Tanner, que marca o início do desenvolvimento físico. A decisão foi polémica nessa altura e continua a ser. A última personalidade a tomar partido sobre a questão foi o nadador australiano Ian Thorpe, que ganhou cinco medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Sidney (2000) e Atenas (2004), defendendo que os líderes da modalidade não tomaram a decisão certa.

"Esta é uma questão muito complicada, não posso negar, e pessoalmente oponho-me à posição que a FINA assumiu", disse aos jornalistas. "Sou a favor da justiça no desporto, mas também sou a favor da igualdade no desporto. E, neste caso, tomaram a decisão errada".

A decisão da federação surgiu depois da controvérsia gerada pela vitória de Lia Thomas, nadadora trans, na distância de 500 jardas livres no campeonato universitário norte-americano. Mas a natação não foi a única modalidade a seguir esta posição: no râguebi aconteceu o mesmo e outras disciplinas estão a rever as regras.

"Quando se olha para os números, alguém que passou pelo difícil processo e foi capaz de fazer a transição para o género que determinou para si próprio, é altamente improvável que alguma vez consiga ganhar uma medalha de ouro olímpica", defendeu Thorpe.

E, estatisticamente falando, não é mentira. Nos últimos Jogos Olímpicos, apenas duas mulheres trans fizeram parte da competição. A halterofilista neozelandesa Laurel Hubbard ficou no último lugar da sua prova e a norte-americana Chelsea Wolfe nem sequer chegou a competir na prova de BMX, uma vez que foi como suplente.

Para o pentacampeão olímpico, esta decisão não teve em consideração as implicações que poderão surgir na comunidade trans. "Quando se trata do nível de elite, tem de haver uma conversa sensata que inclua endocrinologistas, psicólogos, fisiologistas, todos os que de facto possam ter uma opinião neste espaço", disse.

A situação só se torna pior quando se está a falar de crianças. Thorpe acredita mesmo que é “bizarro” que existam preocupações por causa do envolvimento de crianças trans no desporto. "Se alguém se queixa de alguém que é trans quando tem 10 anos de idade, é bizarro. Quase posso garantir que a criança não vai competir numa fase adulta", afirmou.