O Centro Aquático de Tóquio fica a uns três quilómetros de autocarro do hub de transportes dos media, na zona do porto da cidade, mas é segunda-feira na capital nipónica e o cruzamento de Ariake deve ser assim uma espécie de 2.ª Circular ou rotunda AEP cá do sítio. Há muito trânsito, caos, camiões, autocarros. Ninguém passa. A sessão da manhã da natação começa daqui a nada e nestes Jogos Olímpicos, estranhamente (ou talvez não, derivado à diferença horária para os Estados Unidos), é pela fresquinha que se nadam as finais. Dez minutos, vinte minutos, meia hora. Tudo parado. As prometidas linhas dedicadas a veículos de Tóquio 2020 são inexistentes aqui. É uma interseção estranha, um pouco anárquica, ou então é por os japoneses também conduzirem à direita que tudo me parece ainda confuso. No autocarro, olhos nervosos aumentam a frequência de miradelas ao relógio: às 10h30, hora da primeira final, ninguém estará seguramente de olhos postos na piscina.
Porém a minha preocupação é outra.
Segunda-feira é dia de final dos 400 metros femininos, uma daqueles happenings que, aconteça o que acontecer, farão a história destes Jogos Olímpicos. Das duas, uma: ou Katie Ledecky vence, confirma o seu domínio nas disciplinas mais longas nos Jogos Olímpicos e arranca bem para o objetivo de levar seis medalhas de ouro para casa ou passa o testemunho a Ariarne Titmus, australiana de 20 anos, pêlo na venta, que no Mundial de 2019 bateu a norte-americana na distância. Os Jogos Olímpicos servem para provar se aquela derrota na Coreia do Sul foi acaso ou se de facto Ledecky já não é a incontestada rainha da média e longa distância nas piscinas de 50 metros.
A final é às 11h20 Japan Standard Time, menos oito horas em Lisboa, e o meu relógio já dá as 10h30 quando recomeçamos a andar. Uma hora depois de sair para um percurso que não deveria demorar mais de 20 minutos. Já à entrada do perímetro do Centro Aquático de Tóquio, novo engarrafamento. O nervosismo latente transforma-se em protesto, fúria. A pé chegaríamos mais rápido, mas o condutor nipónico é muito, digamos, nipónico: intransigente, com dificuldade em improvisar. As regras são para seguir. Um grupo de fotógrafos lituanos, gente de tamanho considerável, parte para a berraria. Estariam ali provavelmente para apanhar Danas Rapsys, a nadar na 2.ª meia-final dos 200m livres. Mas há muito que Rapsys se qualificou para a final.