O FC Porto tornou-se este domingo campeão da Europa de hóquei em patins, depois de vencer o Valongo, por 5-1, no Pavilhão Municipal José Natário, em Viana do Castelo. Os dragões, repetindo as obras de 1986 e 1990, igualam agora os três títulos europeus do Sporting, até aqui a equipa portuguesa com maior palmarés nesta competição – o Benfica tem dois triunfos. O Barcelona continua a ser, de longe, o maior campeão desde torneio (22), muito à frente de Reus Deportiu (8), Igualada HC (6) e Hockey Club Liceo (6).
O Valongo, fardado de verde, entrou muitíssimo, ameaçou a baliza de Xavi Malián algumas vezes, mas foi Rafa que soube inventar um golaço para o FC Porto, com direitinho a sacar a bola do solo, como se fosse um mágico, encostando depois para a baliza. O ataque rápido, uma especialidade desta equipa, foi conduzido por Gonçalo Alves, que fez o derradeiro passe para Rafa. Os livros de História desta modalidade já iam cochichando: os dragões não venciam a prova desde 1990, quando bateram os espanhóis do CE Noia.
Malián continuava a encher a baliza azul e branca. Fazia lembrar, quem sabe, um senhor que agora estava do outro lado, o mítico Edo Bosch, o treinador do Valongo, que na véspera deu a entender que foi ali, no Porto, que aprendeu que as finais se jogam para ganhar.
O empate saiu do stick de Miguel Moura, que já colocara a bola na baliza do FC Porto, mas o apito do árbitro já havia soado e ele desesperou até que se agarrou ao oficial a pedir perdão com gentileza e desportivismo. O golo foi um remate inesperado, a 12’12 do fim do primeiro tempo. “Nós acreditamos”, podia ler-se num cartaz no meio dos adeptos do Valongo, no pavilhão em Viana do Castelo. Era um Valongo valente, ofensivo, a tentar finalmente o que não conseguiu em 2022, quando perdeu a final da Liga dos Campeões contra o Trissino, em Torres Novas.
Os portistas, contudo, pareciam estar noutro nível, apesar do equilíbrio e do perigo cercar as duas balizas. Carlo di Benedetto executou um tiro e voltou a colocar a sua equipa em vantagem. Foi o sétimo golo para o francês neste torneio. O jogo estava bom, com ritmo e velocidade. Não surpreendeu, apesar da boa réplica dos adversários, o 3-1 do FC Porto, por Gonçalo Alves, que fez o oitavo golo na prova e o 67.º na temporada. Foi um livre direto para o centro da baliza, mais uma bala para a baliza de Xano Edo.
Depois do descanso, o Valongo entrou determinado em encurtar distâncias. O remate do argentino Facundo Navarro ao ferro foi uma declaração de intenções. Afinal, o underdog queria manter vivo o privilégio de poder sonhar acordado, mas o hóquei, como o céu, era azul nesta tarde de domingo. Pouco depois do tilintar daquele poste, Di Benedetto fez o 4-1 para o FC Porto, a 20’ do fim da partida. E celebrou como quem reserva a glória para uma comunidade que representa.

Miguel Bessa
O Valongo tomava conta da bola e o Porto, orientado pelo espanhol Ricardo Ares, preferia o martelo dos trovões que o levavam para a frente em contra-ataques, dando-se ao luxo aqui e ali de gerir e congelar a posse de bola, talvez para frustrar os homens que estavam do outro lado.
Os de verde tinham dificuldades em penetrar a resistência do dragão, que ia dominando a quarta final eight da história desta competição, conquistada por portugueses pela última vez em 2019 e 2021, uma façanha especial do Sporting – em 2020, a pandemia de covid-19 não permitiu a conclusão da Liga dos Campeões desta modalidade histórica para o nosso país.
Rafael Bessa atirou de longe, mas Malián continua gigante, literalmente por tanta armadura e metaforicamente. Os rematadores de Valongo não tinham a afinação dos senhores do outro lado, exatamente os mesmos que fizeram os golos contra o Benfica (4-2) nos quartos de final. Na meia-final, diante do Barcelona, os golos dos portistas foram marcados por Rafa, Gonçalo Alves, Xavi Barroso e Ezequiel Mena. A caminhada do Valongo, nesta final eight, foi salpicada pelos golos de Rafael Bessa e Facundo Navarro na vitória, por 3-1, nos ‘quartos’ contra o Sporting, e de Facundo Bridge, Nuno Santos, Diogo Abreu, que fez três golos, na meia-final contra a Oliveirense.
Penálti! Valongo teve uma oportunidade quando faltavam menos de oito minutos para o final da partida. O argentino Facundo Bridge bateu com força, mas Malián defendeu, na ressaca, o guarda-redes espanhol fez o mesmo. Também Gonçalo Alves desperdiçou pouco depois um penálti diante de Xano Edo, tal como a recarga. O esgar no seu rosto não era demasiado dramático, a folga no marcador assim permitia esta espécie de ressentimento vazio. A manita chegou pelo stick de Xavi Barroso, que fechou a contagem com um toque de classe.
Quando a campainha do pavilhão soou, as notícias encheram cada centímetro do José Natário: o FC Porto, o campeão nacional em título que esta temporada já venceu a Elite Cup na final contra o Benfica, voltou a tatuar para sempre o seu nome na história, vencendo pela terceira vez a Liga dos Campeões de hóquei em patins.
“Quisemos lutar pela final, não estivemos ao nosso nível na defesa, estávamos muito cansados, foi um fim de semana muito desgastante”, confirmou Edo Bosch, o treinador do Valongo na flash interview. “A nossa equipa teve menos tempo para recuperar, isso notou-se. Parabéns ao Porto, parabéns aos meus jogadores porque fizeram uma Champions League digna de campeões, hoje mereciam também esta vitória. Estou muito triste por eles, mas num futuro breve eles vão ganhar muitas coisas, são autênticos campeões.”
Já Ricardo Ares, o treinador do FC Porto, revelou estar muito feliz. “É o máximo. O Valongo atacou-nos muito bem, mas depois gerimos bem o resultado. Não foi da forma que gostaria, mas queríamos ganhar e havia que fazer o necessário para ganhar. Há um caminho a seguir, vamos lutar por todas as competições em que estamos como sempre. Vamos lutar pelo campeonato”, prometeu.
A água que inundava alguns olhos na bancada confirmava a importância do título. Afinal, este troféu escapava ao FC Porto há 33 anos.