O transmontano Luís Miguel Afonso Fernandes chegou, em 2007, aos sub-19 do Sporting Clube de Braga, quando tinha 17 anos. Foi cedido ao Ribeirão, ao Sporting da Covilhã e ao Paços de Ferreira até, em agosto de 2011, estrear-se pela equipa principal dos minhotos. De Braga foi para o Atlético de Madrid, de Espanha foi para o Benfica, onde foi quatro vezes campeão, com 360 jogos que o confundem com a história dos lisboetas na última década.
Foi internacional A, andou pela Turquia e Emirados Árabes Unidos. Em 2023, já como homem de 33 voltas ao sol, longe do adolescente que trocou Trás-os-Montes pelo Minho, voltou ao Sporting de Braga. A 8 de abril, quase 16 anos depois de chegar aos sub-19 dos bracarenses e 4256 dias após a primeira vez que atuou na equipa principal do clube, Pizzi estreou-se a marcar pelo Sporting de Braga.
O primeiro golo de Luís Miguel com a camisola vermelha e branca que vestiu pela primeira vez enquanto sub-19 em 2007 ajudou a equipa de Artur Jorge a conseguir um triunfo, por 4-1, contra o Estoril. Saído do banco aos 59', com 1-1 no marcador, Pizzi apontou o 2-1, aos 70', e ganhou o penálti do 3-1, transformado por Iuri Medeiros aos 80'.
Tal como, por exemplo, contra o Famalicão, em fevereiro, o internacional português mostrou que, entrando para contextos em que o SC Braga está a encostar os adversários à sua baliza, ainda pode ter muito impacto nas partidas. Recebe e passa com técnica, define com critério, usa o seu apurado cérebro futebolístico para descobrir soluções e vantagens entre aglomerações de pernas rivais.
Embalado pelo empate do Sporting em Barcelos, que deixou o objetivo de terminar no pódio mais perto, o SC Braga entrou a empurrar o Estoril para trás como pouco se vê em Portugal. Iuri Medeiros atirou ao poste, Abel Ruiz teve um primeiro golo anulado por posição irregular e, aos 17', fez mesmo o 1-0. Cruzamento da esquerda de Bruma e finalização certeira do espanhol.
Com Ricardo Horta cheio de motivação depois de nova renovação com o clube do qual é o melhor marcador histórico, a confiança do atual Sporting de Braga talvez se meça pela quantidade de vezes em que o canhoto Iuri Medeiros arriscou finalizações com o pé direito. Do outro lado, Alejandro Marques deixava pormenores de qualidade, mas tudo neste Estoril parece definir-se dessa forma — pormenores, detalhes, momentos.
Num conjunto que parece uma junção de formados nos três grandes em busca de um lugar ao sol, parece faltar algo que ligue o ímpeto de Tiago Araújo ao critério de Francisco Geraldes, as arrancadas de Tiago Gouveia à presença física de Mor Ndiaye. O talento que o Estoril tem à disposição teve o seu melhor momento aos 48', numa bela jogada de Carlos Eduardo que culminou com o brasileiro a atirar para o 1-1.
Poder-se-ia acreditar numa igualdade, mas o momento de qualidade voltou a ser só um momento, sem continuidade. São já oito derrotas seguidas fora de casa para o Estoril, que é 15.º, mantendo-se uma posição acima do play-off, com 25 pontos. Agradecerá a dificuldade que as equipas da parte de baixo têm em somar pontos, com o Marítimo com 19, o Paços com 17 e o Santa Clara com 15.
A resistência dos visitantes foi quebrada por Pizzi, o veterano longe do adolescente que trocou Bragança por Braga, o campeão nacional disposto a provar que ainda pode ser útil, o criativo das tabelas e boas decisões. Leu o cruzamento de Gómez, atacou a área, rematou. 2-1, o 73.º golo do transmontano na I Liga.
Pizzi ainda ganharia o penálti do 3-1, convertido por Iuri Medeiros, o quarto golo do canhoto nas últimas quatro jornadas. Aos 94', uma bomba do sueco Joe Mendes fixou o 4-1 final.
Com 62 pontos, o SC Braga mantém-se a apenas dois pontos do FC Porto. Nas duas últimas temporadas, com Carlos Carvalhal, os minhotos fizeram 64 (2020/21) e 65 pontos (2021/22). Essa fasquia não deverá tardar em ser ultrapassada por uma equipa que continua a fazer da profundidade do seu plantel uma grande arma.