A 23 de novembro de 2010, o Palácio do Eliseu, em Paris, foi palco de uma reunião com três protagonistas. Além do anfitrião, Nicolas Sarkozy, então presidente francês, lá estavam Tamim bin Hamad Al-Thani, à altura o príncipe herdeiro do Catar, e Michel Platini, líder da UEFA.
O almoço decorreu nove dias antes do congresso da FIFA que decidiria que países acolheriam os Mundiais de 2018 e 2022. Platini, que durante muito tempo apoiou a candidatura dos EUA à organização do torneio em 2022, percebeu, ao entrar no Eliseu e ver Al-Thani, que “Sarkozy apoiava o Catar” na corrida para acolher a competição. Poucos dias depois, a antiga estrela do futebol votou a favor do Catar.
Em 2015, Platini garantiu que Sarkozy “nunca” lhe pediu que votasse no Catar, mas que o então presidente da UEFA sabia “o que seria bom”. Ao “The Guardian”, garantiu que a decisão de apoiar a candidatura do Catar, e deixar a dos EUA, foi tomada antes do almoço. O voto de Platini, em conjunto com o de outros dirigentes do futebol mundial, foi alvo de diversas investigações por alegações de corrupção, contribuindo para o caso que afastaria o francês da UEFA e do dirigismo.
Mas não só a atribuição do Mundial 2022 ao país do Médio Oriente foi decidida pouco depois daquela reunião. Alguns meses volvidos, a Qatar Sports Investments, subsidiária do Qatar Investments Authority, o fundo soberano do Catar, compraria o Paris Saint-Germain. Com o dinheiro do país liderado pela família de Al-Thani, o PSG passaria de clube em crise eterna, emerso em dificuldades financeiras, para super potência europeia, fazendo desfilar pela capital francesa estrelas como Beckham, Ibrahimovic, Messi, Neymar ou Mbappé.